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Mostrando postagens de 2009

Trato

Então fica assim. Está combinado. Está tudo combinado, plagiando aquele rap. Para 2010 não vale tristeza, não adianta desesperança. Só conta cada sorriso, verdadeiro, feito criança. Marca ponto ser autêntico, ou pelo menos tentar sê-lo. Rende ao relacionamento, um mero afago no cabelo, daquele que a gente ama, do que é companheiro. E se der aquela vontade de cantar no banheiro, e que por um momento, sejamos estrelas no chuveiro. Não. Não quero sorriso forçado, quero algo natural. Não quero camuflar a boca e olhar fugir sorrateiro, denunciando-me a angústia, instalando-se por inteiro. Que a brisa seja sentida e não apenas vislumbrada. Que a contemplação seja engolindo o ar puro pelas narinas e quando menos se esperar, impregnar na retina, aquele cheiro de mar. E não se possa fazer nada que não integrar-se ao todo, deixar vir aos borbotões a energia que emana da divindade, presente em cada um de nós. Não, eu não

Um lugar para conhecer antes de morrer

Um frio de 10 graus positivos nos recebeu em Bogotá. Para Marluce e eu, oriundas do calor amazônico, o ventinho acolhedor era de gelar os ossos. Ceci, nossa anfitriã, era dona do El Goce Pagano, uma casa noturna de música caribenha. Um mojito preparado por ela pôs fim à tremedeira e nos deu as boas vindas. A época da viagem era explosiva. Literalmente. Os guerrilheiros do M-19 haviam invadido e incendiado o Palácio da Justiça. No episódio, morreram quase todos os integrantes da Suprema Corte de Justiça do País. No dia anterior à nossa chegada havia explodido o vulcão de Armero, há pouco mais de cem quilômetros da capital. O medo não impediu que perambulássemos pela cidade e conhecêssemos as choperias, usufruíssemos dos belíssimos concertos na Universidad Nacional, da mostra de cinema cubano em pleno isolamento, inclusive cultural da ilha de Fidel. Por toda parte, capacetes sobre os telhados indicavam a presença de franco-atiradores e a Ceci não largava do nosso pé. A delicada sit

Não é preciso

Tem certas coisas que até podem acontecer, mas não é preciso que passemos por elas ou que as suportemos. Não é preciso ir de carro até a praia se você está há dois quilômetros dela e pode muito bem aproveitar para caminhar mais este trecho e assim obter melhor condicionamento físico. Afinal, caminhar faz bem em qualquer sentido seja ele estético ou de saúde. Mas podemos usufruir igualmente dos benefícios da caminhada extraindo dela o que ela puder lhe oferecer de melhor. E o melhor pode ser deixar para caminhar na beira da praia que é mais prazeroso e saudável, longe do vaivém dos carros e suas descargas. Nós já enfrentamos stress e buzina o ano inteiro e se pudermos ter a areia do mar, porque se contentar com o cimento? Não há necessidade de sentir dor física. Sabemos que ela é o sinal de alerta do organismo, que precisamos dar-lhe a atenção necessária para que a doença não se alastre. Se não sentíssemos dor, nosso corpo se deterioraria sem que percebêssemos e não haveria como ev

Mau Humor Matinal

Tem dias que achamos que estamos fazendo mais pelos outros do que aquilo que julgamos que eles sejam capazes de merecer. Parece que a nossa cota de gentileza esgotou-se e aqueles que nos rodeiam estão em débito conosco. Há dias em que acordamos com a cara feia e que temos de concordar que o nosso bom dia sai meio azedo. Não é um bom dia de boca escancarada, acompanhado de um sorriso que vem de dentro. É um balbucio, que preferiríamos até não esboçar, mas que a cortesia do dia a dia nos impõe. O mínimo que esperamos é que o outro enxergue o nosso mau humor matinal, respeite-nos e fique quieto também. Embora nos levantemos às sete da manhã, nosso corpo só vai dar por conta que já está de pé lá pelas dez horas. Aí sim é que vamos entrar no ar como se a inércia sumisse repentinamente e nos invadisse a vontade de cantarolar: “...deixa vida me levar, vida leva eu...” Ô Zeca Pagodinho filósofo que só. O rádio a estas alturas já está ligado ou o fone de ouvido e então abrimos o melhor sorr

A medida da vaidade

A vaidade é um dos elos indesejáveis na corrente do bem. Para que as pessoas sejam estimuladas a engajar-se numa boa ação é preciso que elas saibam que esse modelo existe para que possam empenhar seu tempo e esforço agregando valor a essa cadeia possibilitando que o bem se expanda. Mas o pecado está na vaidade. Ao se expor, mesmo que com a melhor das intenções estamos dizendo ao mundo que somos bonzinhos, que fazemos isso e aquilo e cá prá nós, traz uma satisfação ímpar ao nosso íntimo. Esta fogueira de estímulos se propaga ao ponto de inviabilizar ações benéficas se duradouras, pois o que era para ser um trabalho altruísta acaba se tornando uma guerra de egos. Todos gostamos do aplauso, faz parte da nossa natureza de ser social estar buscar sinais de aprovação onde quer que eles estejam, mesmo que sutis e que o nosso íntimo possa exultar e sentir: "alguém me viu". Vaidade misturada com poder, a dupla que anda sempre junta na demarcação do espaço que julgamos ter direit

Além das Aparências

Gente de caráter não se liga com quem emite baixas vibrações. Parece coisa de místico, mas pode traduzir por antipatia simultânea. “Não fui com a cara dele(a)”. Ou sentimentos bem mais terrenos como “não fecha comigo e pronto. Não vou perder meu tempo”. Pode parecer prepotência, mas todos nós temos o direito de escolher com quem queremos nos relacionar, a menos que as circunstâncias nos obriguem. Nestes casos, apenas suportamos, com um esforço enorme da nossa parte, porque implica se violentar. A zona de atrito é maior quando estão em jogo não somente situações corriqueiras, mas quando por trás da aparente singeleza delas escondem-se caráter e valores incompatíveis com os nossos. A sensação é de desamparo. “Porque é que eu tenho de passar por isto?. O que eu fiz para merecer este castigo?” A capa de civilidade às vezes ofusca as verdadeiras intenções. Com os broncos é mais fácil. A gente já sabe o que se espera deles. Eles já vão estourando, quebrando os pratos logo de cara. Mas

Primeira impressão

Ironicamente alguém comentou que ela era uma pessoa “espaçosa”. Queria dizer onde quer que fosse ocupava todos os lugares, inundava a todos com a sua presença. Uma pororoca visual e falante que não deixava ninguém incólume após sua passagem? Ou alguém do tipo “arrasa quarteirão?”. A semântica pode ser diferente e o sentido era o mesmo. Pessoas deste tipo fazem as coisas acontecerem. Incomodam, deixam todos irrequietos na cadeira e por detrás do sorriso, enxergamos ameaças. E elas dizem a que vieram, deixando-nos perplexos sem saber se são ingênuas demais; ou então se são boas estrategistas que largam de chegada a capa da autenticidade, mas não se afastam um milímetro sequer daquilo a que se propuseram. Provocam antipatia ao primeiro contato e deixam todos com o pé atrás. É muito bom quando há uma reversão de expectativas em relação a pessoas com quem inicialmente havíamos nos antipatizado. Neste caso a inversão de posicionamentos é positiva e refere-se à síndrome da primeira impres

Gota D'água

“Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa. Que qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota dágua...Pode ser a gota dágua...”A repetição da última frase da música do Chico Buarque fica ecoando em nossos ouvidos. “pode ser a gota d`água...Pode ser a gota d`água...” Vá ser sensível assim mais longe, o Chico. Para perceber com tanta sutileza as nuances da alma feminina... Só pode ser mulher. Ou então travestir-se em sentimentos tipicamente femininos ou que assim transparecem ser. Talvez por isso aquele par de olhos verdes fique grudado na retina das mulheres cinquentinhas, um pouco mais, um pouco menos, anos a fio. Mostrando em canções os matizes dos inevitáveis sofrimentos da existência, como diz um amigo nosso. Estamos resvalando aqui para o preconceito, ao intitular de feminina a prerrogativa da sensibilidade, mas é de caso pensado. O sentimento é intraduzível na maioria das vezes, por mais que nos esforcemos em transmitir aos parceiros, companheiros, a ponta

Ritos de Passagem

A indiazinha tikuna tinha a pele amarelada pela malária e não aparentava mais que doze anos. Mas o que lhe dava um ar mais estranho ainda, era a cabeça, coberta por uma penugem rala. Tivemos contato com ela na Casa do Índio, de Atalaia do Norte-AM, nos anos oitenta, quando trabalhávamos em Tabatinga-AM. Foi quando conhecemos o ritual de passagem da tribo, conhecido como festa da moça nova. Os tikunas, tribo do alto Solimões, com grupos espalhados também pela Amazônia peruana e colombiana, tem entre seus hábitos, a festa da moça nova,  Quando a menina tem sua primeira menstruação é dado conhecimento á tribo que entre eles há uma nova mocinha, preparando-se para ser mulher. Ela então é retirada do convívio dos demais e levada para um lugar reservado sob a guarda das mulheres mais velhas, onde ficará confinada durante aproximadamente um mês, tempo normal até que venha a próxima regra.   Quando ela menstrua outra vez, há uma grande festa e é apresentada como uma nova mulher na aldeia

Projetos

É bom iniciar projetos, buscar soluções que ninguém pensou antes, que nos diferenciam frente aos nossos pares, à nossa comunidade. Mas existem aqueles projetos que transcendem ao individual, ao ambiente de trabalho e envolvem a coletividade. Estes padecem de um problema crônico: a falta de continuidade na sua execução quando o autor da idéia passa o cargo adiante. A maioria não resiste a uma troca de diretoria, de mandato. Rei morto, rei posto. Quando se trata do setor público, temos o hábito de atribuir-lhe todas as mazelas de uma comunidade. Raciocinamos como se o Poder Público fosse uma entidade etérea, composta só por seus governantes e os edifícios que os abrigam. Como se não houvesse cérebros, pessoas que se encarregassem de dar forma às ações. Eles lá e nós cá, quando é o contrário. Há um todo do qual fazemos parte e no qual temos que oferecer nossa contribuição enquanto cidadãos. É fácil ter algo incorpóreo para atribuir a culpa. A empresa, a escola, a prefeitura, a direç

MATRIX - Qual realidade você quer?

Só a MATRIX cria ilusões para a maioria dos humanos. No mundo real muitas vezes também somos levados a escolher em qual realidade queremos acreditar: Real ou virtual? A pílula azul ou a vermelha, como no filme MATRIX Reloaded. Admitir, mesmo que em tese mais de uma realidade é cutucar com vara curta conceitos já vincados em nosso cérebro e para os quais o defensor antes de ser identificado como pretendente a criação de um novo conceito é simplesmente rotulado de louco. Não é compreensível defender junto aos incautos a idéia de contrapontos consolidados. Não existem “metades”. Há “metade” e pronto. É raciocínio pacífico. Fugir disto é inventar outro modelo e partir em direção a raciocínios de multidimensionalidade, ramo hoje mais entregue aos místicos, mas secretamente pesquisado, exaustivamente estudado pela ciência. Como o modelo atual da ciência é fisicalista, o próprio resultado da pesquisa só é divulgado por aqueles cientistas de vanguarda ou pelos claramente dispostos a queb

Ausência de motivação ou de vontade?

Enquanto motivação é a ação de tudo o que pode impelir uma pessoa a um comportamento, a vontade é a tendência ou inclinação espontânea, agir livremente, querer fazer. Relutei em começar este texto, quando a idéia me veio à cabeça, mesmo sabendo que se não lhe desse forma o tema me fugiria. Falta de motivação ou de vontade? Você trouxe frios do supermercado e não os acomodou logo, pois apareceu algo mais urgente. Raciocina que quem vá usar primeiro, guarde da forma habitual. Porém, a maioria dos nossos anjinhos deixa-os abertos, os plásticos escancarados, o presunto escorrendo à espera do nosso ataque de nervos. Mas é tão fácil. Frios no pote, plásticos no lixo seco e pronto. Mas cadê a vontade? Você presenteou alguém com um processador de alimentos que só falta voar. Tem pecinha para tudo. “Que pena, sujar tanta peça... e eu moro só”, retruca a presenteada. Ponto para ela. Pouca gente se dispõe a enfrentar qualquer equipamento, sem que se faça a relação esforço-benefício. Você

Pedidos a Deus

Se a personificação de Deus tivesse uma agenda, ele teria um trabalho danado para atender os nossos pedidos de todos os dias. Não há nome tão lembrado e, diga-se de passagem, em vão. Qualquer sustozinho que tenhamos, lá vem um Oh! Meu Deus!. Parece até que copiamos dos filmes americanos a mania do Oh! My god e por pouco não saímos por aí dizendo I love you, já que este é outro bordão que não falta em filme made in USA. Sim, porque americano diz Oh! My god e I love you para tudo, o que não quer dizer que quando usam estas expressões estejam lembrando sinceramente de Deus ou que estejam amando de fato alguém ou ao supremo. Pedidos na cultura religiosa estão diretamente ligados à oração à comunhão com o ser supremo, que o homem em desespero implora e eleva as mãos aos céus pedindo, apoio e satisfação de suas necessidades. O Deus da nossa crença é um repositório de tudo aquilo que a nossa natureza humana considera insolúvel ou que embora contido na partícula divina que temos conosco,

O que você não pode pedir

Há pedidos que não podem ser feitos. São os que constrangem a quem são dirigidos e não deixam nenhuma alternativa senão a concordância. Pedido assim é ordem dissimulada. Você trabalhou o ano todo, em todos os momentos em que foi demandado, mesmo que fosse fora de hora. Mas agora surgiu o convite de bodas de prata daquele amigo, que sequer pensa na possibilidade de uma negativa da sua parte. Seria normal se o local do acontecimento não fosse Curitiba, uma semana antes do carnaval e você não fosse gerente de eventos de um clube da Capital, famoso por seus carnavais. Quem está constrangendo quem? O seu amigo, quando marca a festa quando você não pode ir? Sua mulher lembrando as inúmeras vezes que o clube precisou de você e você compareceu, mesmo abrindo mão de compromissos particulares? Ou você, indo para cima do presidente do clube, dizendo que pelo menos uma vez na vida, você pode deixar de lado o trabalho e fazer algo que no fundo, também quer? Você sabe que não vai perder o empre

Vida de Novela

Existem características e posturas que se incorporam à pessoa e formam a visão que temos dela, até os mais íntimos. Há quem saiba ser sedutor em público, passar uma imagem maravilhosa e ser um desastre na intimidade. Passamos a vida representando então? Buscando o melhor para si no intuito de construir um personagem para representar? Seria simplista concordar que conscientemente o ser humano possa fazer isso. Mas sabemos que não é difícil nos emaranharmos nas teias que construímos e passamos a incorporá-las, acreditamos nelas e vendemos essa imagem para os outros. Uma novela de TV tem de 30 a 50 personagens, exceto a figuração. Se a história acontece no interior, há um bar, uma farmácia, uma religião, uma determinada loja, um salão de beleza, deixando o resto dos personagens para a imaginação do telespectador. Está implícito. Na vida real são os familiares, os amigos, os colegas de trabalho, a padaria, o supermercado de sempre. O resto é figuração, não tem importância para nós. Só nos

Amar-se

Amar-se é tentar ser livre, o mais livre que puder. Pode ser pintar o cabelo, da cor que bem lhe aprouver. Ou deixá-lo branquinho, se assim lhe convier. Mesmo que depois de algum tempo der vontade de desassumir os brancos, possamos fazê-lo com a serenidade de quem sabe o que quer. Uma coisa a cada tempo, coerente apenas com a vontade interior. Mesmo que em determinados momentos a correnteza nos conduza para outros caminhos, que se possa conscientemente optar por correr riscos desde que se tenha a certeza de só até onde se possa voltar. Amar-se é dar vazão à verdade inconsciente, ao intuitivo ancestral que mora em nós e dar-lhe ouvidos quando ele começa a bater o sininho de alerta, quase que imperceptivelmente, chamando-nos à razão, que não pode ser a dos outros, mas a nossa. É aquela razão que se preocupa principalmente com a nossa natureza essencial e nos cerca de todos os meios para que evitemos violentá-la. Ir de encontro à natureza selvagem que habita em nós é matar os resquícios

FRAGILIDADE (ou experiências de solidariedade)

A angústia não é privilégio de poucos, a maioria a tem. Num maior ou menor grau ela nos avassala vez por outra insistindo em perturbar os dias e prejudicar a sanidade buscada. Nos dias atuais a palavra ansiedade revestida do aval científico veio dar outro nome à ancestral sensação de nó no peito que sentimos quando não conseguimos entender ou resolver algo a tempo e a hora ou quando os acontecimentos não tomam o rumo que esperávamos. Sendo uma constante é inócuo ignorar a angústia. Racionalizar seria a melhor medida, mas não é assim que funciona na prática. A ansiedade extrema paralisa e não há como a pessoa tomar atitudes sadias diante dos obstáculos corriqueiros. Enfrentar a aflição além do caráter tem outras implicações que fogem à vontade. Quem mais opina sobre o problema dos outros, mais leigo é seu parecer, análise inconsciente das próprias atitudes e justificativa do modo de pensar de quem aconselha. Alguns ansiosos até tentam esconder a perturbação, mas o semblante deles não ne

Aí galera, fui!

Mãe boa mesmo, lava, passa e cozinha. De preferência, direito. Onde é que já se viu aquela sua camiseta preferida não estar no lugar, justamente no momento em que você quer? Mãe é para isto. Onde há quem faça o serviço doméstico, a mãe tem que cuidar da infraestrutura necessária para que os seus pupilos não se estressem com coisas tão triviais e consigam dar conta da estafante tarefa de estudar. Mãe dá colinho, mas longe das vistas da galera. Não dá para pagar mico de dar beijinho em mãe ou admitir que um cafuné é bem bom, mesmo que você já tenha passado de um metro e sessenta de altura. Mãe de fé é a que mantém a boca fechada. Não há quem agüente aquele buzinar no seu ouvido. Para que usar corretamente todos os talheres se hambúrger, pizza, torrada, cachorro-quente se come com as mãos? E o que é pior – faz você perder aquele clipe maneiro da MTV porque insiste que lugar de comer é na mesa e não na frente da televisão. Outra coisa que não dá para entender é a incapacidade que mãe tem d

Fome de Viver

À medida que a idade avança o sono diminui, Acorda-se cada vez mais cedo qualquer que seja o dia da semana. A massa trabalhadora espera ansiosa pelo final de semana, afinal é quando não se prende a horário e pode descansar o corpo da labuta semanal. Mas alguém se esqueceu de avisar o relógio biológico e ele desperta sempre no mesmo horário indiferente aos planos do dono do corpo. Na adolescência dorme-se mais e há sempre um familiar para nos acordar, seja porque é hora da escola ou não são horas de estar dormindo quando todos estão de pé ou ainda para se limpar o quarto. Quando conseguem delimitar o espaço, os jovens transformam os seus aposentos num bunker, brandindo o direito à privacidade e ai de quem entrar lá dentro sem bater na porta, condicionado à concordância do pequeno/médio/grande (conforme o percentual de Nescau, coca-cola e pizza da alimentação) ocupante. Na vida adulta a ausência de sono se explica, afinal o dia tem só 24 horas e haja energia para dar conta de tudo. É de

Renúncia, substantivo feminino?

Renúncia não se contabiliza. Quem a exerce no sentido amplo da palavra sequer o percebe, pois considera sua atitude parte da sua contribuição para com aqueles que o rodeiam. O dicionário Aurélio denomina renúncia, substantivo feminino, “a ação ou ato de renunciar, recusa, rejeição, negação, demissão”, o que nos soa incoerente. Abrir mão em extremo lembra traição, quando todos sabem que alguém foi enganado, menos ele. Quem o faz, leva como cruz a carregar. Não estamos apregoando aqui a vocação para mártir, nem que o mundo deva ser desprovido de altruístas. Se fosse só cada um para si ainda estaríamos na caverna ou talvez já tivéssemos nos destruído mutuamente. Algum sentimento tem que haver em prol do outro. É difícil aceitar que a humanidade chegou aos dias de hoje pela subjugação. Nenhuma idéia ou invento sobreviveria sem desapego, vontade de partilhar ou até quem não agüentasse ter uma inovação só para si. O comichão na língua seria incontrolável. Que graça tem ser um gênio se ningué

A Saga do Planeta Atlântida - Parte II

Não basta levar os filhos ao Planeta Atlântida( o festival de música que acontece todo fevereiro na praia de Atlântida, aqui no Rio Grande do Sul.), tem que gostar. Céus, isto é vivenciar a própria sugestão, aquela coisa de usufruir o momento, respeitar escolhas, enfim. Pois é. Passemos da teoria à prática. Decisão de acompanhar os filhos ao festival em Atlântida tomada, o que nos resta é fazer o possível para entrar no clima. Menos mal que a galera aceita numa boa a turma da terceira idade. Já fomos no ano anterior sob uma chuva torrencial e um lamaçal de fazer dó. Mesmo assim valeu pelo Herbert Viana, Ivete Sangalo e até aplaudir o Charlie Brown Jr. É claro que o instinto de mãe se aguçou quando o telão mostrou a cara crispada do vocalista Chorão fazendo malabarismos com um skate e com aquele peso todo. Mas não seria com decibéis à vontade que iríamos fazer, digamos, elucubrações filosóficas. Nesse ano, entramos no site do Planeta, respondemos o quiz no CLICRBS concorrendo a ingre

LIMITES (ou a saga do Planeta Atlântida)

É incrível como nossos filhotes de classe média estão entendidos de leis. São pequenos rábulas, os anjinhos. Pelo menos para saber o que já dá para ser liberado e em qual idade e a partir daí fazer analogias de deixar nós pais e mães de cabelo em pé. Eles também sabem que existe Estatuto da Criança e do Adolescente, leis de proibição ao trabalho do menor; que aos dezesseis já podem votar; a partir dos dezoito podem ganhar carro e dirigir. Concomitantemente ao carro que imaginam ganhar vem no porta-malas a carta de alforria na tão sonhada maioridade. Aí então, vai ser uma festa, não vão precisar dar satisfação para ninguém, já que serão “de maior”. É uma sabedoria só, tudo na ponta da língua, do mesmo jeito que gostaríamos que soubessem aquelas questões da prova de física ou escrever na internet sem maltratar a língua portuguesa. Alto lá. Alguém se esqueceu de dizer que tudo tem uma contrapartida. Quer ser livre? Ótimo. Mas precisa pagar todas as contas, as emocionais e as financeiras.

Supérfluo é Imprescindível?

É constrangedor admirar uma obra e não entender nada, ficar “devendo”. Isto é freqüente quando se trata de arte contemporânea. Dificilmente as expressões artísticas são entendidas no seu tempo. Nossos olhos e ouvidos precisam se acostumar com a vanguarda. Arte também é um mercado e precisa ser vendável. Assim como é igualmente complicado entender o mundo da alta costura, o paralelo pode ser aplicado às artes. Nem tudo que se vê num desfile de modas é usável. É como se os estilistas colocassem um binóculo invertido. Ao invés de pessoas normais desfilando, o que vemos é uma explosão de fantasias unidas por um tema central, que definirá a tendência desta ou daquela estação. O que vai para as ruas é a inspiração daquela parafernália toda que inundou os olhos do mundinho fashion e de poucos privilegiados, ora pela grana, ora por ser o jogador namorado da modelo da hora. Pouquíssimos afortunados podem adquirir um modelo único. O que sustenta mesmo a máquina da moda é o pret-a-pôrter, a produ

Sentir-se só

Palavrinha batida que como a companheira saudade, dizemos só existir em português – e que alguém nos corrija, por favor – solidão rima com desilusão e até com frustração. É um equívoco apostar que ela vá rimar com desamor, a reação mais óbvia ao visualizarmos algum solitário, crendo que o olhar distante característico seja indício de não estar nem aí para o resto da população do planeta. É um autômato o solitário, indiferente ao universo ao redor como se bastasse a si mesmo e nada mais importasse. O mundo interior é muito rico e às vezes é o único reduto de compreensão que nos sobra. Nós e ele, o eu interior. Meio louco, não? Mas é como se conversássemos duas partes da mesma matéria. Uma compacta, física e outra imanente, fluída, que por assim ser tem condição de captar impressões mais refinadas da substância densa e conduzir o Eu físico ao entendimento de um processo que aparenta ser um turbilhão de onde não se consegue sair, por isso o isolamento. O curioso é que dificilmente a solid

Catarse

A arte tem poder e isto não é novo. O filósofo grego Aristóteles registrou um processo que identificou nas tragédias. Foi ele quem chamou de catarse a descarga emocional que a experiência estética proporciona. Quando o expectador de uma peça teatral sente como suas as aventuras e os sofrimentos do protagonista do espetáculo, está trazendo para si vivências, dificuldades que gostaria de superar ou até a mudança que queria que acontecesse em sua própria vida. Contos, histórias e filmes há tempos são usados como instrumentos terapêuticos. Segundo médico Dr. Jacques Leal Soares, de Canoas, tais recursos “são ativadores de reações bioquímicas e neurotransmissores como dopamina, noradrenalina, serotonina, acetil-colina, melhoram o estado de ânimo geral, pelas reações de prazer que proporcionam”. Cada pessoa age de uma forma diferente diante de uma história que está sendo contada, num filme e com isto está abrindo uma janela para o inconsciente. Fora isso, cenas nas telas podem servir de exem

Medida de Valor

Como se mede o trabalho de alguém? Quanto é o tempo que entendemos ser uma jornada razoável a ser distribuída durante o dia? Em três partes, oito horas para o trabalho, oito para o lazer e oito para o descanso? Na prática, ledo engano. Poucos de nós pode se dar ao luxo de ter essa divisão equitativa. Costumamos dizer que temos um trabalho quando há um vínculo empregatício, formal e, quando informal, serviço. Numa gozação tipicamente brasileira, dizemos as pessoas não buscam serviço, procuram emprego. Este último sim, é sinônimo de segurança, sentir-se ao abrigo da lei e proteção quando necessária. Mesmo no desemprego estamos trabalhando e a procura de emprego é um exemplo. Ninguém ocupa as vinte e quatro horas do dia dormindo ou com lazer. Estudar é outra forma de trabalhar, mais acentuada nas fases da educação formal. O sentimento de quem é questionado sobre se é melhor estar executando uma carga maior no emprego formal do que estar sem emprego, surpreende. Principalmente se vem de al

Paixão com sabedoria

O longo período de evolução da humanidade gravou em nossos genes respostas emocionais baseadas em uma duríssima realidade, comparada com os dias atuais. Poucas crianças sobreviviam à infância e os adultos mal chegavam aos trinta anos. Com predadores atacando a qualquer momento, condições climáticas determinando se morreriam de fome ou não, este estado permanente de tensão demandava respostas imediatas e quem sobrevivia passava adiante esta memória através dos genes. De dez mil anos para cá, o domínio da agricultura e as formas de organização social espalharam os avanços e diminuíram as ameaças aos humanos. Minimizada a pressão, reações emocionais perderam a validade. A raiva instantânea no passado era necessária para continuar vivo, mas ser indomável em nossos dias leva a catástrofes. Paixão é sentimento. Sabedoria é racionalidade. É possível a coexistência? Aristóteles, que em Ética a Nicômano, instiga nossa capacidade de equilibrar razão e emoção ao afirmar que “qualquer um pode zang