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Mostrando postagens de julho, 2009

Vínculos

É difícil lidar com as diferenças, estabelecer vínculos com quem não fecha conosco em tudo. A tendência é construir um emaranhado de raízes efêmeras, sem algo que as fixe, podendo ser arrancadas ao menor puxão. Em contrapartida, ficamos isolados no meio social em que inseridos fisicamente. São características inerentes àqueles quem vive mudando de cidade? Nem sempre. Grudamos nos chats da Internet, mas não conversamos com o vizinho, que adora Lupicínio Rodrigues como nós. É que conhecemos o cidadão e se tivermos contato, implica em trazer junto as facetas que não gostamos. Com isso, tornamo-nos seletivos na convivência, limitando-a a um grupo, de preferência o familiar. Somos reconhecidos pelas amizades que construímos. Elas podem ocorrer no emprego, por exemplo. O local de trabalho geralmente não é lugar de construção de afetos, mas de convivência institucional. E somos obrigados a reconhecer que o ambiente empresarial é uma verdadeira guerra em busca de espaço, promoção, empregabili

Intervalo

Eis que chega triunfal! a cavalleria rusticana intermezzo: imobilizai-vos! Dos rostos do povaréu nenhum calor emana faces gretadas, palidez mortal puro pavor. Mãos crispadas, calos atávicos ancestral horror. Sequer as pupilas movem o inimigo imobiliza, allegro, ma non troppo: solta-se o primeiro músculo o segundo... o terceiro... Todos! a força injeta-se vital entra de roldão a dança flui, a dureza esvai o populacho dança, o inimigo baila. A música alcançao cérebro, as veias, o calor invade... tece teias. E a arena vira uma festa que a luz imensa clareia amnésia para o sofrimento, refresco para o espírito, até que voltem as cadeias.

Esperança

Como é bom de sentir a esperança fluindo é como véu se abrindo, naquilo que pode vir. É o fim do andar às cegas, embeber-se nela, eu sei, pode parecer piegas. Mas que coisa bem boa ver surgir um caminho não deixar o tempo à toa, mandar em si sozinho. Mando neles, ora bolas! Que tu achas oh! tempo! Que tu é que me controlas? Não vais escorrer pelos dedos pondo em conchas as mãos. Aprisiono-te, água pura! E entrarás feito torpedo, provocando a revolução, nesta minha vida parada. E a minha esperança futura, É agora, tudo ou nada!

Refém

O filme “Uma Mente Brilhante” quase deu a estatueta do Oscar de melhor ator a Russel Crowe em 2002 ao retratar a vida do matemático americano John Forbes Nash, que teve que conciliar a genialidade com a esquizofrenia paranóica. Temos zelo pela qualidade da nossa saúde mental. As doenças mentais para nós leigos, tem um limite pequeno entre os sintomas, que não percebemos facilmente se é defeito de caráter ou patológico. Nas doenças físicas é mais compreensível a quem não é do meio, justificar que aquela dor nas costas é o músculo tensionado e que o remédio X na posologia indicada pelo médico vai nos proporcionar o alívio num tempo comum estimado. No campo mental não. O leque dos distúrbios é grande e a impressão é que se vai testando medicamentos ou se submetendo a anos de terapia. Ir a um terapeuta ou psiquiatra para muitos de nós é admitir uma moléstia cujo estigma é a loucura e nos tornamos reféns desta marca. Daí para frente nossas ações passam a ser entendidas dentro do contexto de

Inverno

O que é límpido o que é cristalino torna-se opaco, enrijece-se. O maleável endurece. O que escorre pode-se pegar, manipular. Não se consegue por muito tempo segurar. Queima e pele repele o contato pavorosamente, pede-se aos ossos, aos músculos, à consciência, não gele! Com um estalido um desentortar um gemido seduz. O viver se aquece Na quietude do inverno adormece-se à espera do fogo, à espera da luz. Chuva, seja mansa. Tudo hiberna no escorrer das eras. Mas há quem diga, que excetua-se a esperança, da eterna primavera.

Serventia

Nossa sociedade contemporânea consolidou os clichês para ratificar o que queremos encerrar peremptoriamente, dar um veredito, sem comportar maiores elucubrações. São armadilhas que lançamos mão num ímpeto de explicar qualquer coisa que apareça e para a qual não tenhamos tempo para um raciocínio mais amplo ou até por incapacidade mental nossa de fazê-lo. Fruto da nossa ignorância, toma corpo o descarte de tudo aquilo que não enxergamos aplicação imediata. Sinônimo também da impaciência característica dos nossos dias. Só nos serve o que é instantâneo, centrado no que está acontecendo agora e que precisa obrigatoriamente servir para alguam finalidade. Qualquer raciocínio um pouco mais complexo é doideira do interlocutor. O que serve é o aqui e agora. Na visão utiliária e imediatista há todo um culto ao presente. Passado e futuro perderam a importância e nós a capacidade de rever atos e pensar adiante. As tecnologias digitais forçam o uso do real-time (que também poderiamos traduzir por si

Avaliar

Alguém está contando para um terceiro uma estória de arrepiar acerca do comportamento de uma pessoa que ambos conhecem. Os sentidos de quem está perto logo entram em estado de alerta, pelos detalhes interessantes do caso. Paralelo ao relato, quietos no nosso canto, dificilmente não entramos mentalmente na conversa e vamos tecendo nosso juízo e parecer sobre o assunto. Todos nós temos opinião sobre qualquer tema. O que vai permitir se vamos ocupar nossos neurônios com ele é o grau de interesse que o assunto nos desperta. Se orelha realmente queima quando se fala do que acontece na vida dos outros, como diz a lenda, certamente as do Felipão fumegaram quando da pendenga dele na saída do Chelsea e os milhões que embolsou de multa rescisória. E agora o cara vai para a Rússia, treinar um time de nome esquisito e o imaginário dos futebolistas ferve no mundo inteiro. Mas claro, trata-se de dinheiro. Quer assunto melhor para palpitar que dinheiro? “É uma pessoa pública, desperta a curiosidade d

Confiabilidade

Apregoamos aos quatro ventos que a privacidade é um direito da pessoa. Mas na vivência do cotidiano, emitimos opiniões sobre esta ou aquela atitude, daquele(a) amigo(a) de quem nos julgamos para lá de íntimos. Afinal, amigo é para essas coisas. Credenciamo-nos a nos posicionar sobre o assunto, já que amigo que se preza fala bem, mas também está ali do lado para indicar o caminho certo. É que o outro, coitadinho, está tão transtornado pelos fatos que não enxerga que irá pela via errada. Barbaridade! Em que pese o ímpeto humano de avaliar, o posicionamento do amigo passa por, no mínimo, dois aspectos: O primeiro é se ele é tão amigo quanto se julga e se o grau de importância a que se atribui na vida da pessoa é realmente o que a pessoa dá a ele. O amigo sob foco pode estar apenas sendo gentil. E se a amizade não for tão forte assim, pode ser que o ajudado resolva cortar os vínculos ou se distanciar “por uma bobagenzinha de nada”. Ás vezes as amizades são apenas ligações que vão se criand

Pseudomaturidade

Tranque a represa senão ela explode. Não vale a pena ter o trabalho de reconstruir depois. Na turbulência alguém me sacode. Quedo-me serena. Cubro-me de orvalho consolo-me abraço-me surto de demência. Por mais que eu concorde que deva me beliscar, sinto-me presa, não sei chorar. Quem sabe eu acorde e possa enfim me libertar? Mas todo o esforço que faço, sei que é em vão. Perdi a vontade, a determinação só sei me exasperar, Perdi a inocência, ganhei a maturidade. Mas em troca, tive que dar minha parte mais bela justo, logo aquela, Que eu queria guardar. Pobre da lágrima que eu não posso derramar tadinha de mim que nem sei mais chorar