Pular para o conteúdo principal

A Resposta


Eles até podem fazer com as pessoas o que quiserem e a opção de não responder, opinar, negar ou manifestar qualquer reação no ato, exceto a aceitação, não significa que realmente tenham feito o que desejaram com outrem. Quer dizer apenas que seus alvos se reservaram o direito de não reagir. O que as “vítimas” vão fazer com o ocorrido, com a informação, bem como os posicionamentos que venham a adotar ou decisões que porventura tomarão em conseqüência das ações que lhe foram provocadas é algo que lhes cabe somente e igualmente se dão ao luxo de dar conhecimento ou não à parte que lhes afrontou. Se o fizerem, será no momento adequado, com a forma de comunicação que lhes for conveniente. E, talvez agora, os autores também não esbocem a reação esperada quando lhes for dado conhecer, simplesmente por não perceber a resposta que lhes está sendo dada.

Como diria o magnífico escritor José Saramago - recentemente falecido – em sua obra A Caverna: “O importante é o caminho que se fez, a jornada que se andou, se tens consciência de que estás a prolongar a contemplação é porque te observas a ti mesmo ou pior ainda, é porque esperas que te observem. Comparando com a velocidade instantânea do pensamento, que segue em linha reta até quando parece ter perdido o norte, cremo-lo porque não percebemos que ele, ao correr numa direção, está a avançar em todas as direções, comparando, dizíamos, a pobre da palavra está sempre a pedir licença a um pé para fazer andar o outro, e mesmo assim tropeça constantemente, duvida, entretém-se a dar voltas a um adjetivo, a um tempo verbal que lhe surgiu sem se fazer anunciar pelo sujeito”.

Aquilo que não queremos ouvir é a nossa maior dificuldade a enfrentar. Os outros podem até ter alguma pontinha de razão, mas nos ofendem mortalmente se nos atiram o que julgam verdades na cara, mas decididamente, não tem esse direito. Não podem inferir no nosso livre arbítrio, arrombar uma porta sem esperar que a abríssemos de livre e espontânea vontade e remexer assim no más no nosso lixo adormecido, onde é que já se viu? Ignoram deliberadamente os percalços e o esforço hercúleo para chegar até aqui. É fácil cobrar de nós o nós o resultado, a conseqüência, quando só nós sabemos, como apropriadamente ilustra Saramago no texto anteriormente transcrito, o que realmente nos importa é o caminho que percorremos e nos incomoda deveras sermos pegos de surpresa. Também nos perturba perceber que as pessoas estão nos notando, exigindo respostas que não temos condição de dar e atrapalhando o vagar todo próprio do nosso pensamento solto e livre que é, mas sob o nosso domínio pessoal e não à mercê de um atropelado qualquer de palavras que não tenham saído da nossa própria boca. Exigem-nos a perfeição. Não. Esse território é nosso. Somos senhores do nosso crescimento por mais arrogante que isto possa parecer. A contemporização da resposta é só o tempo necessário para metabolizarmos o que serve e expelir o resto. Eles podem até não esperar, mas que a resposta vem, ah! isso vem.

Comentários

  1. Passei aqui para ler um pouco seus textos. Muito bom mesmo.Tudo de bom pra você.

    ResponderExcluir
  2. Arnoldo, que bom tê-lo aqui. Que bom que gostaste. Um ótimo domingo para ti.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Por favor, deixe aqui sua opinião sobre o texto.

Postagens mais visitadas deste blog

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten

A métrica no poema e como metrificar os versos de um poema.

Texto publicado no site Autores.com.br em 25 de Novembro de 2009 Literatura - Dicas para novos autores Autor: PauloLeandroValoto "Alguns colegas me abordam querendo saber como faço para escrever e metrificar os versos de alguns de meus poemas. Diante desta solicitação de alguns colegas aqui do site, venho explicar qual a técnica em que utilizo para escrever poemas com versos metrificados. Muitos me abordam querendo saber: - Como faço? - Como é isso? - O que é métrica? - Como metrifico os versos de meus poemas? - Quero fazer um tambem. - Me explique como fazer. Vou descrever então de uma forma simples e objetiva a técnica que utilizo para escrever poemas metrificados. Primeiro vamos falar de métrica e depois vamos falar de como metrificar os versos de um poema. - A métrica no poema: Métrica é a medida do verso. Metrificação é o estudo da medida de cada verso. É a contagem das sílabas poéticas e as suas sonoridades onde as vogais, sem acentos tônicos, se unem uma com as outras fo

Lidando com opiniões não solicitadas

“Obrigado(a), mas quando eu quero ou preciso de opinião, normalmente eu peço”. Conta-se nos dedos quem tem coragem de dizer a frase acima àquele que resolveu emitir seu parecer sem ter sido consultado, com a fleuma de um súdito da rainha da Inglaterra. Convenhamos, uma resposta dessas ou similar encerra a questão e, se houver, termina também com a amizade ou qualquer relacionamento. Sentimo-nos inclinados a expressar nosso juízo sobre aquilo acontece ao redor, sobre o bate-papo que estamos participando... Até aí tudo bem. Se alguém está abrindo uma questão num grupo presume-se que saiba de antemão que está se expondo e em conseqüência, deve ter capacidade de absorver as argumentações que virão. Do contrário, é melhor nem provocar o assunto. Poucas pessoas se mostram receptivas a críticas quando em público. E se há dificuldade em administrar isso, a tendência da maioria é se esconderem sob o rótulo da timidez. Ou ainda, sob o direito que cada um tem à sua privacidade e reparti-la some