Pular para o conteúdo principal

As greves do ABC paulista no final da década de 1970 e anos iniciais da década de 1980, vistas pelas lentes da fotografia engajada

        Toda imagem tem razão de ser: exprime e comunica sentidos. Carrega valores simbólicos; cumpre função religiosa, política, ideológica; presta-se a usos pedagógicos, litúrgicos e até mágicos.

 

 Cartaz pela anistia que a polícia mandou retirar. São Paulo, SP - 06/12/1978 

Crédito: Ricardo Malta/N Imagem



O processo que dá origem à fotografia se desenrola num momento histórico específico, em determinado contexto econômico, social, político, estético, religioso, que se configura no instante do registro.



Culto ecumênico em memória de líder de sindicato rural assassinado
 em Conceição do Araguaia, Pará. 1980. Foto de Juca Martins. 
Copyright: Olhar Imagem

 



Mulher lavando roupa na favela Malvina. Macapá. Amapá. 1983.
 Foto de Joao Roberto Ripper.  Copyright :Olhar imagem


 



Foto de Juca Martins.  Copyright: Olhar Imagem





Movimento contra carestia, Praça da Sé, São Paulo. 27/08/1980 
Crédito: Ricardo Malta








Movimento pela Anistia. SP. 1979.  
Foto: Juca Martins.     
Copyright: Olhar Imagem




A fotografia é um documento visual cujo conteúdo, ao tempo em que revela informações, também desencadeia emoções. Assim, o ser humano, suas atividades, manifestações, fazem parte da essência do visível fotográfico



 Retorno de Miguel Arraes ao Brasil, RJ. 1979. 

Foto de Juca Martins. 

Copyright: Olhar Imagem



O período entre 1978 e 1985 se notabiliza pelas greves no ABC e a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, marcam um momento decisivo na transição para uma nova forma de sistema político. A novidade de 1978 foi enunciada sob a foram de imagens, narrativas e análises referindo-se a grupos populares os mais diversos que irrompiam na cena pública reivindicando seus direitos, a começar pelo primeiro, o direito de reivindicar direitos.



Manifestação estudantil contra a ditadura. SP. 15.06.1977. 
Foto de Juca Martins


A partir do conteúdo documental que encerram, as fotografias retratam deferentes aspectos da vida passada de um país. As imagens que têm reconhecido valor documental são fontes importantes para os estudos históricos das mais diferentes áreas do conhecimento. Representam um meio de conhecimento da cena passada e, portanto, uma possibilidade de resgate da memória visual do ser humano e do seu entorno sociocultural.

Arte engajada é aquela em que o artista usa seu talento para transmitir sua visão de mundo e, também como reação ou denúncia.

Quando Picasso durante a guerra civil espanhola, protesta contra a violência do Generalíssimo Franco, pintando Guernica, produz arte engajada.


Código: 124742 Assunto: Campanha eleitoral - Lula - Chico Buarque - Vale do Anhanguabaú - Eleições 94. Local: São Paulo – SP 

Data: 09/1994 Autor: Delfim Martins




Show de Maio em apoio ao fundo de greve dos metalúrgicos do ABC. 07.05.1979
Foto de Juca Martins.  Copyright: Olhar Imagem

 A luta ideológica através da produção de imagens ao longo do tempo sempre existiu. As censuras mudam contornos, sejam eles oficiais, na época da ditadura, censura de mercado, na atualidade, baseiam-se ambas em questões ideológicas. A fotografia engajada se opõe ao jornalismo sob encomenda. Quem a produz está convicto de que há uma realidade a ser escancarada, o que só é possível se o registro imagético for feito de forma engajada. Com isso, produz fotografia documental, inscreve a passagem do homem em sua época. O engajamento na luta pela democratização torna o controle sobre os assuntos, a distribuição de seus trabalhos, a posse dos originais e o licenciamento das obras, ingredientes do ideal de democracia que o país busca.


O marco do foto-jornalismo se dá em 1979, quando Delfim Martins, Juca Martins, Nair Benedicto e Ricardo Mala, fundam a F4. Esses profissionais convencionam que a filosofia de trabalho deve ser voltada preferencialmente para a documentação social e econômica do povo brasileiro.



Corpo de Santos Dias sendo levado da Consolação para a Praça da Sé, Lula e militantes. Data: 31/10/1979  Crédito: Ricardo Malta / N Imagem 



Em plena ditadura civil-militar, numa época de grande efervescência política e social, a decisão de produzir seu próprio assunto independente das redações de jornal, implica que esse conteúdo seja gerado dentro de estrutura democrática e participativa, condizente com o apelo das ruas.




Ato público a favor da Anistia, Praça da Sé, SP. 1979.    Foto de Juca Martins. 
Data: 1979. Copyright: Olhar Imagem



Repressão policial, operários/greves São Bernardo do Campo, 24/03/1979 
Crédito: Ricardo Malta/N Imagens


O impacto dos movimentos sociais em 1978, leva a uma revalorização das práticas sociais em presentes no cotidiano popular, ofuscadas por modalidades que predominavam em sua representação. Os movimentos sociais são redescobertos desde a sua gestação, no curso da década de 1970, vistos então, pelas suas linguagens, pelos lugares de onde se manifestavam, como emergências de novas identidades coletivas. (SADER, 2000.p.26-27)



          Metalúrgicos, Assembleia, Vila Euclides, São Bernardo do Campo-SP  Data: 03/1980 Crédito: Nair Benedicto / N Imagens


Intervenção policial no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. SBC. 1980. 

Foto de Juca Martins. Copyright: Olhar Imagem

 


Repressão a greve dos bancários. SP. 1979.
Foto de Juca Martins.  Copyright: Olhar Imagem

 

        CONCLUSÃO:

    A fotografia engajada teve enorme importância na constituição do imaginário brasileiro. Desde seu núcleo inicial, ainda sob o regime da ditadura civil-militar, o trabalho fotográfico desenvolvido permitiu construir um ideal que permeou e delineou a história do Brasil. Atravessou décadas e regimes políticos. Nas imagens expostas, percebe-se o enfoque ideológico que há por trás, pelo menos deste núcleo de fotógrafos. Atravessaram décadas juntos e acompanharam governos. O enfoque aqui não tem caráter valorativo a determinada visão política ou ideológica que esse ou aquele movimento enfatiza, mas sim, sua real importância na construção desse imaginário que existiu e hoje ainda constitui um diferencial necessário no regime democrático que construímos e que nos interessa manter.


BIBLIOGRAFIA

BURKE, Peter. Fotografias e retratos. IN: Testemunha ocular. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2004. Pp.25-40.

___________/A história cultural das imagens. IN: Testemunha ocular. Opus. Cit. Pp 225-238

OLIVEIRA RIBEIRO Jr. Antônio. IN:S SAMAIN, H. (org). O Fotográfico, o visível e o invisível: um fotógrafo e o Rio de Janeiro no início do século XX.  Ed. Hucitec. s/d. p.69-80.

SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena: experiências, falas e lutas dos trabalhadores da Grande São Paulo, 1970-80. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 4ª edição 2000.

WEBGRAFIA

https://www.pulsarimagens.com.br/autor/delfim-martins

https://www.pulsarimagens.com.br/autor/ricardo-azoury

https://www.olharimagem.com/

 

 

 

 

Comentários

  1. Quisera pôr-te ao peito o fio de água
    Que escorre como a luz do teu olhar,
    Mas sobra-me da noite este luar
    Que cobre de nudez a minha mágoa,

    De ser neste momento a mera frágua
    Que queima com anseios de abraçar
    Teu corpo que se espraia pelo mar,
    Qual rio que no fundo assim deságua!

    Amor da minha vida, o mundo é largo
    E pouco o nosso tempo de o saber
    Que em mal nascendo o dia, era morrer,

    Nos teus braços bebendo o fruto amargo,
    Ou ficar qual crisálida em letargo
    Até nascer da noite um novo Ser.

    Ajotaef, 29-11-3023

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Por favor, deixe aqui sua opinião sobre o texto.

Postagens mais visitadas deste blog

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten

A métrica no poema e como metrificar os versos de um poema.

Texto publicado no site Autores.com.br em 25 de Novembro de 2009 Literatura - Dicas para novos autores Autor: PauloLeandroValoto "Alguns colegas me abordam querendo saber como faço para escrever e metrificar os versos de alguns de meus poemas. Diante desta solicitação de alguns colegas aqui do site, venho explicar qual a técnica em que utilizo para escrever poemas com versos metrificados. Muitos me abordam querendo saber: - Como faço? - Como é isso? - O que é métrica? - Como metrifico os versos de meus poemas? - Quero fazer um tambem. - Me explique como fazer. Vou descrever então de uma forma simples e objetiva a técnica que utilizo para escrever poemas metrificados. Primeiro vamos falar de métrica e depois vamos falar de como metrificar os versos de um poema. - A métrica no poema: Métrica é a medida do verso. Metrificação é o estudo da medida de cada verso. É a contagem das sílabas poéticas e as suas sonoridades onde as vogais, sem acentos tônicos, se unem uma com as outras fo

Lidando com opiniões não solicitadas

“Obrigado(a), mas quando eu quero ou preciso de opinião, normalmente eu peço”. Conta-se nos dedos quem tem coragem de dizer a frase acima àquele que resolveu emitir seu parecer sem ter sido consultado, com a fleuma de um súdito da rainha da Inglaterra. Convenhamos, uma resposta dessas ou similar encerra a questão e, se houver, termina também com a amizade ou qualquer relacionamento. Sentimo-nos inclinados a expressar nosso juízo sobre aquilo acontece ao redor, sobre o bate-papo que estamos participando... Até aí tudo bem. Se alguém está abrindo uma questão num grupo presume-se que saiba de antemão que está se expondo e em conseqüência, deve ter capacidade de absorver as argumentações que virão. Do contrário, é melhor nem provocar o assunto. Poucas pessoas se mostram receptivas a críticas quando em público. E se há dificuldade em administrar isso, a tendência da maioria é se esconderem sob o rótulo da timidez. Ou ainda, sob o direito que cada um tem à sua privacidade e reparti-la some