A luta permanente do vice-presidente brasileiro contra o câncer que o acompanha há anos é motivo de admiração pela maioria de nós. Por mais que sua visão da doença seja irrealisticamente positiva aos nossos olhos é contagiante e digna de aplausos a maneira insistente como ele enfrenta a moléstia, situação em que muitos já teriam entregado os pontos. Mas não. Paralelo à sua obstinação em lutar, nós que o acompanhamos pela mídia, insistimos em procurar naquele sorriso permanente dele, um ar de representação. É inevitável especular sobre qual papel ele está desempenhando, se é para nós ou para ele próprio buscar forças e assim dominar o inimigo instalado em seu corpo. Domínio, esta parece ser a palavra. A doença já o acompanha há doze anos e ele aparenta desdenhar dela. Como quem ignora um espinho no pé e segue caminhando. De vez em quando pára, faz um curativo, ajeita a pisada, mas nem por isso deixa de seguir em frente. A vida continua, apesar da doença. Não fosse um quê de malignidade ...
Rackel F F Tambara é poeta, cronista e contista.