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Mostrando postagens de 2011

Fliporto

É preciso ter fé

Existem diversos assuntos com os quais todos nós, em alguma medida, temos dificuldade de lidar. A lista é longa, mas se nos pedissem para reduzi-la a um mero item, creio que escolheríamos a dificuldade de lidar com a morte.             O máximo de avanço que conseguimos em relação à morte é um misto de medo ou fingida indiferença. Por mais firmes que sejam as nossas convicções _ na prática, são esboços de convencimentos para nos mesmos _ basta uma dor mais aguda que a habitual ou um nódulo mínimo apontado por uma ressonância magnética, para disparar o alarme. Temos pavor de morrer, ninguém está imune a esse sentimento.   A tecnologia médica não nos serve nessa hora. A ciência pode nos dar respostas técnicas, mas não possui remédio que desate o nó que o horror da morte põe na nossa garganta. O que se quer mesmo é buscar sentido para a vida, uma explicação que nos atenue o medo de sermos apenas uma tabela periódica ambulante, como uma pedra a mais a vagar pelo cosmo. Essa dimensão espir

A Ambiguidade da Riqueza

Nenhum de nós sabe precisar em que momento o dinheiro se insidia na nossa vida como facilitador dos relacionamentos.   O dinheiro torna as pessoas mais contentes com quem o proporcionou e nos sentimos mais a vontade com quem está satisfeito conosco. Seja sob a forma de um presente, um agrado, ou quando damos uma boa gorjeta a quem nos prestou um serviço. Uma vez, tendo a chave da confiança, relaxamos. Fixamos um ponto de corte. Somos objeto do agradecimento de alguém pela nossa gentileza inata. Uma afeição sincera, porque repousada em bases sólidas.                O dinheiro, funcionando como mecanismo tradutor da nossa vontade, das nossas emoções, descomplica os vínculos que mantemos ao nosso redor. A amizade é estabelecida, consolidada sem que prestemos atenção a eventuais motivos obscuros. É às claras, respaldada pelo nosso desapego às qualidades financeiras _ estas impronunciáveis _ mas presentes o tempo todo, conferindo solidez às conexões.             Quando exageramos na gent

Seria o pessimismo mais inteligente?

              O filósofo Luiz Felipe Pondé, professor da PUC-SP e da FAAP, autor de inúmeros livros, sendo o mais recente, O Catolicismo Hoje , (Benvirá) é tido como polêmico no meio intelectual. Pondé não se furta ao contato com o público de fora da Academia; lança mão dos meios que a mídia lhe dispõe para divulgar suas idéias, seja como colunista da Folha de São Paulo, seja como palestrante da FLIP-Feira Literária de Paraty-RJ, seja nas páginas amarelas da Revista VEJA desta semana.             Pondé foi o conferencista do ciclo de palestras “Fronteiras do Pensamento”, desta semana   na capital gaúcha, onde se propôs a responder à pergunta que foi o título da sua exposição: “Seria o pessimismo mais inteligente? Trazemos aqui as respostas de Pondé a algumas das perguntas da platéia, após a palestra, realizada por ele no salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre, na noite de 11 de julho de 2011: Pergunta : O avanço das ciências, por possibilitar o conhecimento das nossas  limitações

POESIA VISUAL: De Simmias a Joan Brossa, Uma Conexão com o Cotidiano

POESIA VISUAL: Uma Conexão Com o Cotidiano O olhar e o falar nas diversas formas de Arte     Quando a transmissão de conhecimento era basicamente oral, a realidade era uma só para todos. Se todos diziam as mesmas palavras, não havia diferença. As palavras tinham o status de realidade, desbancando a visão particular. Logo, a verdade era algo sobre o quê a maioria dizia as mesmas frases.       A palavra é a ferramenta básica da poesia, mas isto não impede que no feitio do poema - transcrição de um indivíduo de como ele enxerga a realidade aparentemente única – os poetas agreguem materiais e/ou maneiras de se exprimir diversas, que conferem peculiaridades à poesia, sem perder a essência.       Isso também acontece nas demais espécies de Arte, este amplo território do sensível, materializado em pintura, música, filme, teatro, literatura, escultura e as múltiplas formas de espetáculo. Há sempre um novo fazer artístico sendo agregado.     Na Arte contemporânea o artista usufrui como nu

Os Sapatos Sujos da Língua Portuguesa

O texto abaixo nos foi cedido pela advogada Silma Duarte, de Porto Alegre, que gentilmente nos permitiu a publicação neste espaço. Conhece Mia Couto? Moçambicano, ele estudou medicina e biologia. Mas se dedica às letras. Tem leitores cativos em Europa, França e Bahia. Os brasileiros o prestigiam em lançamentos, palestras e tietagens. Os patriotas também. Outro dia, convidaram-no para abrir o ano letivo do Instituto Superior de Ciências de Moçambique. O tema: os sapatos sujos da modernidade. Ele justificou a escolha do assunto assim: "Não podemos entrar na modernidade com o atual fardo de preconceitos. À porta da modernidade, precisamos nos descalçar”. Contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos modernos. Haverá muitos. Mas eu tinha de escolher. E sete é número mágico". O 1º sapato sujo: a ideia de que os culpados são os outros e nós somos sempre vítimas. O 2º: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho. O 3º: o preconceit

Shirin Ebadi: O Clamor por Mudanças no Irã. Uma Voz em Defesa dos Direitos Humanos.

            A advogada iraniana Shirin Ebadi foi responsável pela palestra da noite de 13 de junho, do ciclo de conferências “ Fronteiras do Pensamento ” realizado no salão de Atos da UFRGS em Porto Alegre.             O evento, cujo objetivo é estimular o debate sobre a identidade da época em que vivemos, teve sua estréia em 23 de maio, passado, com a presença do crítico literário americano e teórico marxista Frederic Jameson, com o tema A Estética da Singularidade.             Prêmio Nobel da Paz em 2003, por sua atuação na defesa dos direitos humanos no Irã, Shirin Ebadi, a segunda conferencista do ciclo Fronteiras do Pensamento , usou o idioma farsi para expressar-se durante a conferência, dividida em duas partes, a segunda dedicada a responder às perguntas da platéia.             Durante a explanação inicial, Shirin, que quer dizer “doce” em persa, manteve a fala tranqüila, inclusive ao citar os exemplos concretos de discriminação, ou na descrição das penas capitais previstas na