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Mostrando postagens de setembro, 2009

Fome de Viver

À medida que a idade avança o sono diminui, Acorda-se cada vez mais cedo qualquer que seja o dia da semana. A massa trabalhadora espera ansiosa pelo final de semana, afinal é quando não se prende a horário e pode descansar o corpo da labuta semanal. Mas alguém se esqueceu de avisar o relógio biológico e ele desperta sempre no mesmo horário indiferente aos planos do dono do corpo. Na adolescência dorme-se mais e há sempre um familiar para nos acordar, seja porque é hora da escola ou não são horas de estar dormindo quando todos estão de pé ou ainda para se limpar o quarto. Quando conseguem delimitar o espaço, os jovens transformam os seus aposentos num bunker, brandindo o direito à privacidade e ai de quem entrar lá dentro sem bater na porta, condicionado à concordância do pequeno/médio/grande (conforme o percentual de Nescau, coca-cola e pizza da alimentação) ocupante. Na vida adulta a ausência de sono se explica, afinal o dia tem só 24 horas e haja energia para dar conta de tudo. É de

Renúncia, substantivo feminino?

Renúncia não se contabiliza. Quem a exerce no sentido amplo da palavra sequer o percebe, pois considera sua atitude parte da sua contribuição para com aqueles que o rodeiam. O dicionário Aurélio denomina renúncia, substantivo feminino, “a ação ou ato de renunciar, recusa, rejeição, negação, demissão”, o que nos soa incoerente. Abrir mão em extremo lembra traição, quando todos sabem que alguém foi enganado, menos ele. Quem o faz, leva como cruz a carregar. Não estamos apregoando aqui a vocação para mártir, nem que o mundo deva ser desprovido de altruístas. Se fosse só cada um para si ainda estaríamos na caverna ou talvez já tivéssemos nos destruído mutuamente. Algum sentimento tem que haver em prol do outro. É difícil aceitar que a humanidade chegou aos dias de hoje pela subjugação. Nenhuma idéia ou invento sobreviveria sem desapego, vontade de partilhar ou até quem não agüentasse ter uma inovação só para si. O comichão na língua seria incontrolável. Que graça tem ser um gênio se ningué

A Saga do Planeta Atlântida - Parte II

Não basta levar os filhos ao Planeta Atlântida( o festival de música que acontece todo fevereiro na praia de Atlântida, aqui no Rio Grande do Sul.), tem que gostar. Céus, isto é vivenciar a própria sugestão, aquela coisa de usufruir o momento, respeitar escolhas, enfim. Pois é. Passemos da teoria à prática. Decisão de acompanhar os filhos ao festival em Atlântida tomada, o que nos resta é fazer o possível para entrar no clima. Menos mal que a galera aceita numa boa a turma da terceira idade. Já fomos no ano anterior sob uma chuva torrencial e um lamaçal de fazer dó. Mesmo assim valeu pelo Herbert Viana, Ivete Sangalo e até aplaudir o Charlie Brown Jr. É claro que o instinto de mãe se aguçou quando o telão mostrou a cara crispada do vocalista Chorão fazendo malabarismos com um skate e com aquele peso todo. Mas não seria com decibéis à vontade que iríamos fazer, digamos, elucubrações filosóficas. Nesse ano, entramos no site do Planeta, respondemos o quiz no CLICRBS concorrendo a ingre

LIMITES (ou a saga do Planeta Atlântida)

É incrível como nossos filhotes de classe média estão entendidos de leis. São pequenos rábulas, os anjinhos. Pelo menos para saber o que já dá para ser liberado e em qual idade e a partir daí fazer analogias de deixar nós pais e mães de cabelo em pé. Eles também sabem que existe Estatuto da Criança e do Adolescente, leis de proibição ao trabalho do menor; que aos dezesseis já podem votar; a partir dos dezoito podem ganhar carro e dirigir. Concomitantemente ao carro que imaginam ganhar vem no porta-malas a carta de alforria na tão sonhada maioridade. Aí então, vai ser uma festa, não vão precisar dar satisfação para ninguém, já que serão “de maior”. É uma sabedoria só, tudo na ponta da língua, do mesmo jeito que gostaríamos que soubessem aquelas questões da prova de física ou escrever na internet sem maltratar a língua portuguesa. Alto lá. Alguém se esqueceu de dizer que tudo tem uma contrapartida. Quer ser livre? Ótimo. Mas precisa pagar todas as contas, as emocionais e as financeiras.

Supérfluo é Imprescindível?

É constrangedor admirar uma obra e não entender nada, ficar “devendo”. Isto é freqüente quando se trata de arte contemporânea. Dificilmente as expressões artísticas são entendidas no seu tempo. Nossos olhos e ouvidos precisam se acostumar com a vanguarda. Arte também é um mercado e precisa ser vendável. Assim como é igualmente complicado entender o mundo da alta costura, o paralelo pode ser aplicado às artes. Nem tudo que se vê num desfile de modas é usável. É como se os estilistas colocassem um binóculo invertido. Ao invés de pessoas normais desfilando, o que vemos é uma explosão de fantasias unidas por um tema central, que definirá a tendência desta ou daquela estação. O que vai para as ruas é a inspiração daquela parafernália toda que inundou os olhos do mundinho fashion e de poucos privilegiados, ora pela grana, ora por ser o jogador namorado da modelo da hora. Pouquíssimos afortunados podem adquirir um modelo único. O que sustenta mesmo a máquina da moda é o pret-a-pôrter, a produ

Sentir-se só

Palavrinha batida que como a companheira saudade, dizemos só existir em português – e que alguém nos corrija, por favor – solidão rima com desilusão e até com frustração. É um equívoco apostar que ela vá rimar com desamor, a reação mais óbvia ao visualizarmos algum solitário, crendo que o olhar distante característico seja indício de não estar nem aí para o resto da população do planeta. É um autômato o solitário, indiferente ao universo ao redor como se bastasse a si mesmo e nada mais importasse. O mundo interior é muito rico e às vezes é o único reduto de compreensão que nos sobra. Nós e ele, o eu interior. Meio louco, não? Mas é como se conversássemos duas partes da mesma matéria. Uma compacta, física e outra imanente, fluída, que por assim ser tem condição de captar impressões mais refinadas da substância densa e conduzir o Eu físico ao entendimento de um processo que aparenta ser um turbilhão de onde não se consegue sair, por isso o isolamento. O curioso é que dificilmente a solid

Catarse

A arte tem poder e isto não é novo. O filósofo grego Aristóteles registrou um processo que identificou nas tragédias. Foi ele quem chamou de catarse a descarga emocional que a experiência estética proporciona. Quando o expectador de uma peça teatral sente como suas as aventuras e os sofrimentos do protagonista do espetáculo, está trazendo para si vivências, dificuldades que gostaria de superar ou até a mudança que queria que acontecesse em sua própria vida. Contos, histórias e filmes há tempos são usados como instrumentos terapêuticos. Segundo médico Dr. Jacques Leal Soares, de Canoas, tais recursos “são ativadores de reações bioquímicas e neurotransmissores como dopamina, noradrenalina, serotonina, acetil-colina, melhoram o estado de ânimo geral, pelas reações de prazer que proporcionam”. Cada pessoa age de uma forma diferente diante de uma história que está sendo contada, num filme e com isto está abrindo uma janela para o inconsciente. Fora isso, cenas nas telas podem servir de exem

Medida de Valor

Como se mede o trabalho de alguém? Quanto é o tempo que entendemos ser uma jornada razoável a ser distribuída durante o dia? Em três partes, oito horas para o trabalho, oito para o lazer e oito para o descanso? Na prática, ledo engano. Poucos de nós pode se dar ao luxo de ter essa divisão equitativa. Costumamos dizer que temos um trabalho quando há um vínculo empregatício, formal e, quando informal, serviço. Numa gozação tipicamente brasileira, dizemos as pessoas não buscam serviço, procuram emprego. Este último sim, é sinônimo de segurança, sentir-se ao abrigo da lei e proteção quando necessária. Mesmo no desemprego estamos trabalhando e a procura de emprego é um exemplo. Ninguém ocupa as vinte e quatro horas do dia dormindo ou com lazer. Estudar é outra forma de trabalhar, mais acentuada nas fases da educação formal. O sentimento de quem é questionado sobre se é melhor estar executando uma carga maior no emprego formal do que estar sem emprego, surpreende. Principalmente se vem de al

Paixão com sabedoria

O longo período de evolução da humanidade gravou em nossos genes respostas emocionais baseadas em uma duríssima realidade, comparada com os dias atuais. Poucas crianças sobreviviam à infância e os adultos mal chegavam aos trinta anos. Com predadores atacando a qualquer momento, condições climáticas determinando se morreriam de fome ou não, este estado permanente de tensão demandava respostas imediatas e quem sobrevivia passava adiante esta memória através dos genes. De dez mil anos para cá, o domínio da agricultura e as formas de organização social espalharam os avanços e diminuíram as ameaças aos humanos. Minimizada a pressão, reações emocionais perderam a validade. A raiva instantânea no passado era necessária para continuar vivo, mas ser indomável em nossos dias leva a catástrofes. Paixão é sentimento. Sabedoria é racionalidade. É possível a coexistência? Aristóteles, que em Ética a Nicômano, instiga nossa capacidade de equilibrar razão e emoção ao afirmar que “qualquer um pode zang

Laços de sangue

Relações familiares são marcas que não se apagam. Mesmo quando alguém resolve trabalhar longe, mais dia menos dia a saudade bate e não há outra alternativa senão pedir arreglo e buscar colo. Elos só se preservam se forem azeitados, mantidos mesmo à distância. Hoje, com a facilidade das comunicações, não há desculpa para nos esquecermos de alguém. Vale o desejo de continuar tendo a pessoa no rol dos nossos sentimentos mais ternos. É difícil lidar com os sentimentos de familia. Temos a obrigação de gostar, de ajudar e até de aturar, pela justificativa de que os laços de sangue nos unem. Às vezes isto não é verdadeiro. Desenvolvemos antipatias dentro da família, tão ou mais fortes do que aquelas que acontecem nas demais relações. A convivência familiar nos dá o suposto direito de sermos autênticos. Como se o mundo fosse uma prisão e o lar o único santuário de liberdade possível e ali pudéssemos ser nós mesmos no sentido amplo da palavra. Isto pode ser notado em fatos corriqueiros, como o

Perdão, a palavra chave

A historinha é de domínio público e tem pequenas variações de personagem mas a essência é mais ou menos esta: O pai conta ao filho uma metáfora no intuito de ajudá-lo a controlar seu ímpeto e mau gênio. "Cada vez que você tiver um acesso de ira e disser impropérios ou ofender alguém, vá naquela cerca de madeira e finque um prego". E assim o garoto fez. Sempre que não conseguia se conter batia um prego após a ofensa cometida. Passado algum tempo a cerca estava cheia de pregos. O pai pede ao filho que peça desculpas a quem magoou e que cada vez que o fizesse, retirasse um prego da cerca. O garoto passou então a pedir desculpas a quem havia molestado e a cada prego retirado, sentia-se mais forte e mais confiante. Após arrancar todos os pregos o pai levou-o novamente para junto da cerca e chamou a sua atenção para um fato. No lugar dos pregos, agora haviam buracos. Carregamos as marcas dos nossos erros ao longo da vida, fazendo um esforço muito grande para minimizá-las. Nunca é t

Equalizando a frequência

Às vezes nos dá aquela vontade danada de discutir umas idéias que temos na cabeça e achamos maravilhosas, com alguém que temos certeza que vai nos entender. Tudo bem, se a vontade de telefonar não for às 8:00 horas da manhã e o nosso interlocutor é puro instinto, até passar o mau humor matinal. Até tentamos segurar a ansiedade, mas não é sempre que se consegue. O resultado é inevitável. Tudo o que retorna do outro lado é um balde de água fria. “Oi, tudo bem!”. Você espera e nada daquele “mas que prazer te ouvir!” costumeiro. É o suficiente para abortar seus pensamentos, por mais brilhantes que eles inicialmente tenham parecido. É aí nos convencemos que o melhor lugar para eles é lá no fundo do nosso cérebro. É complexa a sintonia entre o nosso momento e o do outro, mesmo os mais íntimos. Estamos loucos para conversar e só de olhar para a cara do(a) parceiro(a), dá para ver que “o tempo se armou de fato, lá pras bandas do Uruguai”, e o olhar ferino que nos é dirigido nos desencoraja no

Aquele que dorme

Quando alguém está de má vontade para fazer algo que lhe pediram é meio caminho andado para a explosão. Pedimos aos nossos adolescentes que ajudem na organização familiar, que juntem suas roupas ou que tomem banho e o fazemos delicadamente. Uma, duas, três. É meu amor pra lá, meu filhinho para cá e nada. Só que os nossos anjinhos estão com os hormônios explodindo em espinhas pela cara e loucos para cantar de galo e enfrentar alguém. Nada que nós também já não tenhamos feito em priscas eras. Agora é a vez deles. Os pais somos nós, os adolescentes são eles é a nossa vez de ter a paciência torrada. Cada um tem o seu papel nesta fase da vida. Podemos do alto da nossa suposta experiência dizer que isto é temporário, que é “aborrecência”, que nós já passamos por isso. Faz parte da afirmação deles contestar os pais e nós não podemos lhes negar este direito. Enganamo-nos quando achamos que embora a delicadeza com que os tratamos para pedir o que eles deveriam fazer por conta própria, o cidad