Gurus estão na moda no universo profissional, mesmo que o adepto esteja bem no trabalho, mas sente que precisa de algo mais para crescer que não consegue achar em si próprio. É a senha para que entre em cena o guru. E não é só aquele que ministra palestras motivacionais, mas o que está ali do lado, no ambiente de serviço mesmo. É que no fundo, precisamos de referências para saber por onde seguir e buscamos isso nos outros. Às vezes nem conhecemos pessoalmente alguém, mas gostamos dessa ou daquela característica dela. Podemos discordar em alguns pontos ou mesmo acreditar em tudo que diz, mas é quem nos passa a sensação de “um dia quero ser tão bom(boa) quanto ele(a)”...Pronto, criamos o guru, que pode ser para o campo pessoal, profissional ou religioso.
Alcançando o que pretendemos com determinado modelo, temos a sensação de estar no caminho certo. Todavia, corremos o risco de iniciar o círculo vicioso de mal superarmos um mestre, já nos submetermos a outro. Deixamo-nos convencer por idéias alheias, embora pareçam sob medida para resolver um problema imediato que temos. Sem maiores reflexões se aquele princípio é viável de acordo com as nossas crenças ou modo de vida, somos sob certos aspectos inexperientes ou estamos sob cochilo mental ao adotar a primeira idéia que vislumbramos genial. Apressadamente permitimos o roubo das nossas idéias, o que não quer dizer que sejamos tolos, mal intencionados ou que isto ocorra quando se é jovem. Acontece com qualquer um e independe do grau de instrução ou mesmo das boas intenções.
No auge das carências não fugimos do incomum, o impulso fala mais forte, não nos deixando perceber a intenção dos outros permitindo que nos subtraiam o que é significativo, nosso tesouro interno, enfraquecendo o sentido de identidade. Pode ser uma interferência ou interrupção de algo que nos é vital, como esperança, crença na bondade e vem de onde menos esperamos. O entusiasmo ofusca uma leitura mais racional do cenário. O afã de encontrar um caminho nos faz ingênuos. A percepção falha quanto às motivações dos outros e nos torna inexperientes em projetar o futuro, perceber todas as pistas do ambiente, já que o destino nos proporciona lições ocultas não apreendidas numa análise superficial.
Aqueles a quem seguimos podem não ter completado o seu processo de aprendizado. Muitas vezes, ditos gurus, ao propagar suas idéias, estão em processo de convencimento, não maduros o suficiente para saber como prosseguir. Se sua iniciação no assunto está incompleta, vão nos omitir variáveis importantes ainda não dominadas, causando estragos em seus adeptos. Na prática trata-se de uma idéia já inicialmente fragmentada e por isso contaminada de uma forma ou de outra.
No outro extremo, quem passou pela experiência do furto das idéias, luta por ter maior domínio da situação, mas desnorteou-se e ignorando outros aspectos a serem observados completar o aprendizado, voltam ao primeiro estágio, o de ser submetido ao roubo, repetidas vezes. A certeza de nossos valores pode ser a forma de nos mantermos inteiros, sem se fechar para o ato de aprender. Quem ensina ainda não sabe tudo. Substituir o conhecimento que já incorporamos, pelo de outrem tem um custo para nós. Não é o que perdemos, mas é um cheque a descoberto, que contaminou nossas crenças e não depositou nenhuma certeza em troca.
É possível fazer do aprendizado um referencial que não descartamos, simplesmente. Apenas acumulamos, agradecemos os ensinamentos, mesmo que seja só pelo exemplo dado.
Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten...
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