Enfrentar com dignidade a tempestade e refazer-se interiormente após sua passagem não é tarefa fácil. Temos necessidade de harmonia na mente para que o corpo fique em paz. Quando passamos por perdas há todo um desequilíbrio que não sabemos por onde começar para retomar a nossa vida. Principalmente quando se trata da partida de alguém que já cumpriu sua parte na vida terrena e vai embora quando chegou sua hora, dizem alguns, foi escolha, alegam outros. Mas não há resposta para o vazio que provocam em nosso íntimo tampouco conformidade com a perda. Choramos por aquele que se foi, mas no fundo nossas lágrimas são de autopiedade, coitadinhos de nós que vamos sofrer com a ausência física.
Sempre há alguém indo embora, seja inesperado ou como vela que se apaga serenamente. A inconformidade é idêntica em todos. Racionalmente sabemos que uma hora ou outra partiremos, é assim que caminha a humanidade, mas nossos pobres sentidos rendem-se ao mistério da vida e a pergunta permanece: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Nossas crenças nos ajudam a acalmar o coração, mas é preciso dar tempo ao tempo, diz a sabedoria ancestral, buscar serenidade. Tranquilidade que nada tem a ver com a preguiça ou descaso com a vida. Seu sentido é mostrar-nos o trabalho honesto, a continuidade da existência.
Paz imperturbável não parece ser inerente à condição humana. Seria prerrogativa de quem já atingiu um grau de elevação intelectual e espiritual e por isto transita incólume pelas adversidades que a vida certamente lhe impõe? É uma pista. Mas sua condição é a brandura permanente da alma que se alimenta de sentimentos nobres, o que o nosso egoísmo natural impede de tê-la presente. O orgulho é outro alimento das inferioridades e impeditivo da serenidade. Então, se quisermos alcançá-la, que busquemos o combate ao orgulho e egoísmo, estes moradores internos responsáveis pelos distúrbios de todas as manifestações do bem no caminho de quem ainda não se libertou deles. E muitas vezes passamos a vida inteira controlando-os e o máximo que conseguimos é prendê-los com correntes para que não se soltem e atrapalhem todo o trabalho de evolução.
A natureza é inteligente em todos os seus aspectos. O vento quando sopra o faz em direções variadas, purificando os lugares, alimentando vidas, distribuindo sementes, trazendo tempestade também, que é igualmente purificadora. É ponto de corte que acelera a transformação com um fenômeno que é pura fúria e que nos amedronta. Mas passa. E nos transmite a sensação de que todo o ambiente foi renovado e que este grande laboratório da vida que é a natureza se encarregou de executar para que o equilíbrio se restabeleça, a água da chuva purifique.
Nosso exemplo de paz interna dissemina-se para quem está ao nosso redor. Alimentando a corrente de equilibro e serenidade que se multiplica e ganhamos força para seguir em frente na tarefa individual que nos cabe, mas com muitos companheiros de jornada.
Duas frases da Biblia fizeram minha cabeça: "és pó e ao pó tornarás" e "vaidade, tudo é vaidade". Quando olho para o céu, penso no Universo e sinto minha ínfima pequenez mais compreendo o quanto somos humanos, demasiados humanos.
ResponderExcluirValeu pelo texto, Rackel; é bem reflexivo; abraços.
ResponderExcluirPartidas são pássaros que alçam vôo e não retornam tão cedo...
ResponderExcluirO que mais me intriga é a ideia que fazemos dessa partida. O medo.
Este medo é tão somente a 'vaidade' de julgarmo-nos imortais.
Nadi
Paulo, concordo contigo e com a Nadi. Não conseguimos nos conformar com a nossa pequenez e a vaidade nos domina. Obrigada a ambos. Abraço fraterno.
ResponderExcluirAfonso, obrigada por prestigiar meus textos. Abraço fraterno.
ResponderExcluirSabem de uma coisa, acho que a Rackel instiga bastante com seus textos.Só não concordo com a pequenez.Também não acho que sou grande coisa.Eu só sei que existo...logo, sou. Será que isto é muita vaidade? Hum...fiquei preocupada.
ResponderExcluirOlga, obrigada pela visita e comentário perspicaz. Abraço Fraterno.
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