Internamente carregamos a certeza da impossibilidade que algo flua. Movidos pelos instintos, todo o corpo corrobora pela insistência e manutenção dos desejos, pelo prazer que a busca proporciona. Lutar contra algo que suspeitamos quase impossível é agradável. Principalmente se é o que está posto, aquilo que as pessoas esperam e não será objeto de contestações.
Poucos enxergam além e é o desfecho óbvio para a maioria. É cômodo e porque não ceder ao bem estar? Fora isto, há a relação custo-benefício. Quantas pedras não haveríamos de rolar pirâmide acima para abdicar do que é confortável? Ele, o ideal desenhado está ali, à mão, embalado pelo sentimento e promessa de atendermos à nossa vontade, sentirmo-nos livres por estar seguindo o que o instinto determina. Sendo assim, não há porque ter caraminholas na cabeça, conjecturar conseqüências que podem mudar o rumo da nossa vida, unicamente porque uma voz interna nos diz que isto não vai dar certo. Não fecha com os nossos projetos de vida, nos alega o restinho de razão, mas também não nos aponta a saída. Se não é parte da solução, também não faça parte do problema. Dane-se a lógica que insiste em analisar as personalidades envolvidas e nos alerta que no longo prazo a coisa não vai funcionar! A menos que mudemos demais a nossa personalidade, e, fundamental, tornemo-nos outra pessoa, abracemos ideais diferentes daqueles que apregoamos até então e que as pessoas esperam de nós. Dane-se se temos outro por dentro! Até porque os decepcionaríamos se mostrássemos nossa verdadeira face. Precisaríamos trocar de cenário, arrumar outro público e porque não dizer, outra vida. Isto porque não suportaríamos a pressão que toda mudança abrupta provoca.
É muito fácil fazer esse raciocínio à distância, quando a nossa vida já transcorreu de maneira aparentemente inversa àquela que o curso dos acontecimentos e da nossa vontade supostamente ferrenha sinalizava. Todavia, mesmo a previsível, exigia a contrapartida da vontade alheia e quem nos garante que não faziam as mesmas conjecturas e não necessariamente nos incluiriam em seus planos?
Iludimo-nos, quando achamos que controlamos nossa vida e que há ignorância somente do outro lado. Nossos passos são igualmente monitorados. Não tínhamos a visão ampla que julgamos ter hoje e que apelidamos incautamente de sabedoria, mas que não deixa de ser apenas experiência e acomodação ao que escolhemos viver e aos bons frutos que a escolha e porque não dizer - o deixar-se levar - nos proporcionou.
No fundo, o desafio era o mesmo e o ambiente que nos instigava ao novo, impeliu-nos à amplidão e ao instinto desenfreado do saber que buscávamos. Não nos tornamos outra pessoa. Tiramos véus sobrepostos no nosso interior e tornamo-nos minimamente lúcidos, mas ainda assim, ignorantes, vaidosos e visionários.
Oi Rackel, muito bom ler você, sempre textos muito bem escritos.Beijos
ResponderExcluirObrigada, Arnold, por tua presença e comentário.
ResponderExcluirAh, sim! Somos muitos e para várias situações.
ResponderExcluirComo é difícil prever a nós mesmos! Parece que estamos sempre pevenidos, mas não é isto que o acontece no dia a dia. Mentimos até para o espelho...Pena não sabermos procurar nosso reflexo no Universo.
Bjs
Adorei o "tornamo-nos mínimamente lúcidos". Entendo que, realmente, temos lances de lucidez apenas, na atual etapa evolutiva que vivemos.Mas, bem por isso,que a atenção tem importância vital para aproveitar esses raros momentos de lucidez. Como é que anda a nossa atencão?
ResponderExcluirNadi, obrigada pela compreensão e comentário.
ResponderExcluirAbraço fraterno.
Oi, Olga, obrigada por enriquecer o assunto. Abraço fraterno.
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