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Reflexões sobre cérebro e consciência - Parte I


Reflexões sobre cérebro e consciência. Parte I.

Consciência no sentido clássico é o estado em que a pessoa está ciente de suas ações físicas e mentais, só ocorrendo quando se está acordado e alerta.

Por volta do século V a.C. o cérebro passou a ser reconhecido como o centro das atividades mentais, mas a idéia da existência de uma substância responsável pela formação da consciência, a dualidade herdada da antiguidade grega, persistiu.

No século XVII, o filósofo e médico René Descartes, afirmou que a alma — mente — (e, por dedução a consciência) se dissociam do cérebro e do corpo. Somos uma mente que interage causalmente com um corpo e esse corpo se comporta como uma máquina. Essa alma não existe nos animais e nos autômatos (sim, Descartes imaginou os robôs). Possuímos comportamento reflexo; e, o cérebro é o local onde nossos pensamentos ocorrem. Estava criado o dualismo moderno, a doutrina segundo a qual mente e corpo são radicalmente distintos.

Desde então dualistas e materialistas (ou monistas) seguem se digladiando.  À neurociência, nos anos 50, coube a herança de decifrar o enigma de Descartes: O cérebro gera uma mente. Ok. Então, como o funciona o processo pelo qual essa mente converte um sinal cerebral num estado mental?

Dos anos 90 para cá, filósofos e cientistas como Daniel Dennet, Roger Penrose, John Searle e Raymond Kurzwei, dentre outros, propuseram diferentes modelos conceituais a fim de compreender a natureza da experiência consciente. O problema mente-cérebro se tornou na atualidade, o problema mente-cérebro-consciência.

Na tradução do cerebral para o mental, psicologia e neurofisiologia se misturam. A definição de consciente usada até hoje tem origem na divisão de Freud do aparelho psíquico: inconsciente, subconsciente e consciente. Correspondendo à zona da razão, o consciente, por intermédio da introspecção, responde pelo contato com o mundo exterior, tornando o indivíduo capaz de descrever as próprias experiências e apresentar determinado padrão de comportamento. Decifrar o código cerebral tem trazido mais dúvidas que resultados à ciência. Serão tais códigos resultado da atividade de um cérebro ou da atividade de uma mente que examina um cérebro. Na causação mental, as mentes podem afetar os corpos. A psicossomática é a ciência que busca encontrar essa relação causal entre fenômenos mentais (psicanálise e psicologia) e fenômenos físicos (medicina tradicional). A consciência de alguns estados mentais ou experiências pode fazer a diferença no comportamento ou nos estados pelos quais o corpo passa? A consciência é o que nos distingue de simples máquinas biológicas e de zumbis?

O inventor Raymond Kurzwei questiona “qual será o papel que no futuro, o homem-ciborgue, capaz de trabalhar inúmeras vezes mais rápido do que o humano de hoje em dia — o processamento de informação nos cérebros primordialmente não-biológicos é mais rápido — será capaz de desempenhar”?

Em algum momento as máquinas se afirmarão conscientes e haverá uma concorrência desleal entre elas e o "ser humano não aprimorado". O indivíduo que não incorporar a inteligência artificial não será capaz de competir em termos de produtividade com os ciborgues. Não se trata de substituir o homem por robôs, mas do processo inverso. O que dizer dos implantes e acessórios que cada vez mais acoplamos ao nosso corpo? De marca-passos a prótese de membros, cada novo avanço tecnológico, distancia-nos da figura humana natural, numa divisa cada vez menor entre homem e máquina.

 

Revista Filosofia Ciência e Vida Nº 9, 2007. Artigo do Dr. João de Fernandes Teixeira;

O livro do cérebro. Alberto P. Quartim de Moraes. Ed. Duetto, 2009.

 

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