Às vezes nos dá aquela vontade danada de
discutir umas ideias que temos na cabeça e achamos maravilhosas, com alguém que
temos certeza que vai nos entender. Tudo bem se a vontade de telefonar não for
às oito da manhã e o nosso interlocutor não for puro instinto até passar o mau
humor matinal. Até tentamos segurar a ansiedade, mas não é sempre que se
consegue. O resultado é inevitável. Tudo o que retorna do outro lado é um balde
de água fria. “Oi, tudo bem”. Você espera e nada daquele “que prazer te ouvir!”
costumeiro. É o suficiente para abortar seus pensamentos, por mais brilhantes
que eles inicialmente tenham parecido. E aí nos convencemos que o melhor lugar
para eles é lá no fundo do nosso cérebro.
É complexa a sintonia entre o nosso
momento e o do outro, mesmo os mais íntimos. Estamos loucos para conversar e só
de olhar a cara do(a) parceiro(a), dá para ver raios e trovões se armando e o
olhar ferino que nos é dirigido, nos desencoraja no ato. Ou então, estamos com
uma dorzinha no coração, querendo colo e não sabemos o motivo. A única certeza
que temos é de como seria bom alguém nos acariciar os cabelos e nos dizer que
aquela tristeza vai passar. Que nada. O interlocutor vem logo dizendo: “também,
você não devia ter feito isso, ter dito aquilo”, e assim vai. É aí que nos
faltam palavras para retrucar e dizer que não queremos nem precisamos de corte
marcial. No fundo se sabe que se está sendo incoerente e parcial. Se a gente
tivesse opinião formada, não ia procurar apoio. Só queremos conversar com
alguém.
Se o ouvinte é nosso amigo, vai perceber
que não é o momento de julgar. Se tiver intimidade suficiente, pode até fazê-lo
em ocasião mais oportuna. Como nos quer bem, vai pelo menos tentar compreender,
captar o real sentido das nossas palavras e atitudes e ser o que se espera de
um amigo: o companheiro de sempre, que nos entende como irmão, porque gosta de
nós e não dos nossos defeitos. A probabilidade da sintonia se concretizar é
imensa, porque conta com a boa vontade dele para conosco.
Vamos torcer os dedos, afinal, ouvir é o
que as pessoas mais fazem hoje em dia. Se não for isso, porque é que andam sempre
com um fone no ouvido? Se nos sentimos bem com o som das maquininhas, quem sabe,
um contato mais humano não fará milagres?
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