Pular para o conteúdo principal

UM OUVIDO, POR FAVOR!


Às vezes nos dá aquela vontade danada de discutir umas ideias que temos na cabeça e achamos maravilhosas, com alguém que temos certeza que vai nos entender. Tudo bem se a vontade de telefonar não for às oito da manhã e o nosso interlocutor não for puro instinto até passar o mau humor matinal. Até tentamos segurar a ansiedade, mas não é sempre que se consegue. O resultado é inevitável. Tudo o que retorna do outro lado é um balde de água fria. “Oi, tudo bem”. Você espera e nada daquele “que prazer te ouvir!” costumeiro. É o suficiente para abortar seus pensamentos, por mais brilhantes que eles inicialmente tenham parecido. E aí nos convencemos que o melhor lugar para eles é lá no fundo do nosso cérebro.
É complexa a sintonia entre o nosso momento e o do outro, mesmo os mais íntimos. Estamos loucos para conversar e só de olhar a cara do(a) parceiro(a), dá para ver raios e trovões se armando e o olhar ferino que nos é dirigido, nos desencoraja no ato. Ou então, estamos com uma dorzinha no coração, querendo colo e não sabemos o motivo. A única certeza que temos é de como seria bom alguém nos acariciar os cabelos e nos dizer que aquela tristeza vai passar. Que nada. O interlocutor vem logo dizendo: “também, você não devia ter feito isso, ter dito aquilo”, e assim vai. É aí que nos faltam palavras para retrucar e dizer que não queremos nem precisamos de corte marcial. No fundo se sabe que se está sendo incoerente e parcial. Se a gente tivesse opinião formada, não ia procurar apoio. Só queremos conversar com alguém.
Se o ouvinte é nosso amigo, vai perceber que não é o momento de julgar. Se tiver intimidade suficiente, pode até fazê-lo em ocasião mais oportuna. Como nos quer bem, vai pelo menos tentar compreender, captar o real sentido das nossas palavras e atitudes e ser o que se espera de um amigo: o companheiro de sempre, que nos entende como irmão, porque gosta de nós e não dos nossos defeitos. A probabilidade da sintonia se concretizar é imensa, porque conta com a boa vontade dele para conosco.
Vamos torcer os dedos, afinal, ouvir é o que as pessoas mais fazem hoje em dia. Se não for isso, porque é que andam sempre com um fone no ouvido? Se nos sentimos bem com o som das maquininhas, quem sabe, um contato mais humano não fará milagres?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten...

A Lei de acesso à informação. Cuba e Angola: Empréstimos com carimbo de "SECRETO"

  Aproveitando o debate que tivemos hoje em aula sobre a abertura ou não dos arquivos dos tempos da repressão, comentamos matéria publicada em 09/04/2013, pela Folha de São Paulo, de autoria do jornalista Rubens Valente, intitulada Brasil coloca sob sigilo apoio financeiro a Cuba e a Angola. A notícia de que o governo federal, através do Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, classificou como secreta a documentação que trata dos financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e Angola surpreende e, poderia passar despercebida de todos nós. Certamente, os meios de comunicação ficaram sabendo disso através do artigo 30, inciso II, da Lei nº 12.527, de 18/11/11, a Lei de Acesso à Informação, que prevê a publicação anual pela entidade máxima de cada órgão responsável do “rol de documentos classificados em cada grau de sigilo. O cidadão comum, que em 2012 festejou a publicação da chamada Lei de Acesso à Informação, pode se indagar:   “Que tipo de documento pod...

As greves do ABC paulista no final da década de 1970 e anos iniciais da década de 1980, vistas pelas lentes da fotografia engajada

          Toda imagem tem razão de ser: exprime e comunica sentidos. Carrega valores simbólicos; cumpre função religiosa, política, ideológica; presta-se a usos pedagógicos, litúrgicos e até mágicos.     Cartaz pela anistia que a polícia mandou retirar.  São Paulo, SP - 06/12/1978  Crédito: Ricardo Malta/N Imagem O processo que dá origem à fotografia se desenrola num momento histórico específico, em determinado contexto econômico, social, político, estético, religioso, que se configura no instante do registro. Culto ecumênico em memória de líder de sindicato rural assassinado  em Conceição do Araguaia, Pará. 1980. Foto de Juca Martins.  Copyright: Olhar Imagem   Mulher lavando roupa na favela Malvina. Macapá. Amapá. 1983.   Foto de Joao Roberto Ripper.   Copyright :Olhar imagem   Manifestação do Movimento Contra a Carestia. Praça da Sé. SP. 27.08.1978  Foto de Juca Martins.   Copyright: Olhar Im...