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CAÇA AO PALMEIRA


Vai ser difícil outro mês tão memorável quanto está sendo esse aqui na cidade das belezas naturais. Sabe quando a população inteira adere ao monoassunto? Pois é o que acontece nesses meados de fevereiro. Por uma semana todo mundo só fala da mesma coisa: os artistas estão entre nós.
O melhor hotel da cidade foi contratado de porteira fechada para abrigar a constelação global que irá ocupar as telinhas no horário das nove a partir de maio. Nívea Maria foi a abre alas. E não é que o primeiro lugar que ela visitou por aqui foi o Cine Teatro Ideal? Artista deve ser atraído por esses locais, afinal, o prédio onde hoje é uma farmácia, já foi supermercado, cinema e teatro.
Sim, na primeira década do século XX Jaguari já tinha iluminação pública, banda de música, jornal e teatro. Por aqui fervilhava uma atividade cultural intensa para os padrões da época. Coisa que se perpetuou até nossos dias. Que o digam o Festival de Música Nativista “O Grito de Jaguari”, o carnaval mais famoso da região, só para citar dois exemplos.
A saída despreocupada da Nívea Maria pelas ruas da cidade lhe conferiu o título de Miss Simpatia, garanto. É a rainha dos selfies desde que chegou na quinta, antes do resto da turma. Parece que está em casa. As redes sociais fervem com as fotos tiradas com os ídolos. Mas foi no final de semana, com a chegada da Fernanda Montenegro, Juliana Paes e... Marcos Palmeira, que a festa esquentou.
Nunca houve um calçadão tão cheio. Na tarde de sexta, um morador do Bom Respiro, postado na esquina da rodoviária, queria saber o que era aquele alvoroço todo. “São os artistas que chegaram”. “E onde é que eles estão?”. “Ali, no hotel da Maninha”, alguém lhe apontou. “E a gente pode ver?”. “Não, estão todos aí dentro”. Ao que o nativo resmungou: “cramenta”, para depois dar de ombros, dobrar a esquina e ir pegar o ônibus para o terceiro distrito.
Não teve quem não se envolvesse ou desse opiniões. Até eu. Me vi esticando o pescoço para ver aquele caminhão parado no centro da cidade com uma porção de roupas em cabides. Era o figurino dos artistas. Dentre eles, vi uma roupa de padre. Fiquei um tanto decepcionada. Lá no fundo, achava que iam chamar o nosso pároco para celebrar o casamento. Pensando bem, aquela batina era muito pequena e não ia caber no padre Dalvino, mesmo.
E aí, parece que a imaginação corre solta, principalmente porque alguns atores são mais reservados, como disse a Nívea, e os habitantes, ficam conjecturando, o que só aumenta o suspense. Um evento desses tem mais de 50 pessoas trabalhando, mas nós, o público, só queremos saber das estrelas. Ainda não sei se alguém tirou foto com a Amora Mautner, a diretora. Mas creio que a correria é mesmo atrás de quem aparece na telinha.
Juliana Paes chegou, chegando, com direito a vídeo no Instagram e encantada com o nosso arco íris de boas-vindas. Quando ela apareceu na frente do hotel era um mar de celulares só, em busca de uma selfie com a protagonista.
Mas o melhor estava por vir. Sábado pela manhã, Jaguari foi palco de uma corrida inusitada: a caça ao Palmeira. Sim, ele mesmo, Marcos Palmeira, em pele, músculo e osso (tu tá muito magrinho, meu filho. Anda precisando de uma fortaia com polenta no café da manhã). O astro resolveu correr para manter a saúde em dia. E aí, moçoilas e marmanjos se puseram a acompanhá-lo.  Não que isso não seja um hábito por essas plagas. Todo mundo aqui caminha na faixa, dá a volta no obelisco para manter a forma. Contudo, no sábado foi diferente. Era o Palmeira correndo, cruzando a ponte Júlio de Castilhos e gente com celulares na mão, se juntando ao exercício por onde ele passava. Aí, então, só deu o Marquinho e o seu tanquinho (Ó, rima infame!) nas redes sociais, competindo ali, ali, com a simpatia da Ju.
Confesso que fiquei  com medo de tanta gente correndo na faixa. É um perigo. Quando me avisaram, desci o morro da Santa Juliana para dar uma olhada. O Palmeira vinha  na direção da Boca da Picada e a multidão junto. Será que ele ia até o Cajavuretã? Até o gado da chácara se amontoou perto do mata-burro para ver o Marcos Palmeira passar.
Para minha decepção e dos ruminantes, o astro e a galera deram meia volta na altura da sucata e, se foram a la cria, de volta para Jaguari.

Comentários

  1. Parabéns! Me senti na minha terra, vivendo cada momento desses...
    Que maravilha!

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  2. Beleza de texto muito criativo e original ll Parabens a autora e a minha querida terrinha natal ...que com artistas ou não sempre é top

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  3. Parabéns Raquel!!! Bela resenha, de fato um acontecimento histórico para a cidade. Se os famosos experimentarem a nossa cachaça não saem mais daí.

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  4. Bah! é mesmo. E se for daquela que eu botei pitanga dentro, melhor ainda.

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  5. Ótimo texto.
    Saudades da minha terrinha natal 💓

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  6. Parabens d Rackel...estavamos anciosas pro Palmeira entra na chacara Sao Franscisco....

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  7. Ameiii!!! Falou tudooo Vó Raquelina!!!!! Semaninha vai ficar marcada na história Jaguariense!

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