Pular para o conteúdo principal

Porta do Sol

Um jorro de luz
escapa por entre as nuvens,
espelha o mar,
clareia as montanhas adormecidas,
esgueira-se por entre os edifícios,
acordando-nos para um novo dia.
O amarelo se alastra
cobrindo cinzas e verdes
Tudo se torna dourado.
Um átimo a ser usufruído.
Momento único.
Em segundos,
outras paisagens, outros tons.
O milagre da criação
se repete a cada instante.
A vida reafirmando seu pacto
resistindo teimosa,
indiferente se o nosso coração
se abre ou não à luz
graciosa e benfazeja
e se negue a refleti-la.
Vivamos.
O espetáculo se renova a cada dia.
Em cada rincão
há uma porta para o sol.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As greves do ABC paulista no final da década de 1970 e anos iniciais da década de 1980, vistas pelas lentes da fotografia engajada

          Toda imagem tem razão de ser: exprime e comunica sentidos. Carrega valores simbólicos; cumpre função religiosa, política, ideológica; presta-se a usos pedagógicos, litúrgicos e até mágicos.     Cartaz pela anistia que a polícia mandou retirar.  São Paulo, SP - 06/12/1978  Crédito: Ricardo Malta/N Imagem O processo que dá origem à fotografia se desenrola num momento histórico específico, em determinado contexto econômico, social, político, estético, religioso, que se configura no instante do registro. Culto ecumênico em memória de líder de sindicato rural assassinado  em Conceição do Araguaia, Pará. 1980. Foto de Juca Martins.  Copyright: Olhar Imagem   Mulher lavando roupa na favela Malvina. Macapá. Amapá. 1983.   Foto de Joao Roberto Ripper.   Copyright :Olhar imagem   Manifestação do Movimento Contra a Carestia. Praça da Sé. SP. 27.08.1978  Foto de Juca Martins.   Copyright: Olhar Im...

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten...

PARCEIROS DO JAGUARI

A adolescente boia em descanso após atravessar o rio a nado. Esquadrinha o céu límpido à procura de nuvens naquele início de tarde. A água tépida de verão lhe acaricia o dorso.   – Vem, Luti, vem! Convida o enorme cão preto – porte indicando alguma nobreza – que se mantém inabalável, olhos fixos no rio. Ele está com preguiça hoje, ela pensa. Vira momentaneamente o rosto para a margem, vê o cachorro levantar uma das patas dianteiras em direção às orelhas. Espantando as moscas, imagina. Ele era assim, feito gente, cheio de manias, aquele seu companheiro. Não pode contar com o Luti hoje. A mocinha flutua no rio, íntima dele desde a infância. Distraída, embala-se nas águas, o corpo inicia um giro, alheio ao seu comando. No começo, devagar, depois, o ritmo aumenta, levando-a para outra parte onde o cálido é substituído pelo frio. O choque térmico lhe aguça os sentidos, percebe a água em círculos sob ela, a aragem, seguida de um farfalhar; a lembrança de frio percorrendo o...