Pular para o conteúdo principal

Hora Certa


Qual é a hora certa de se tomar uma decisão, iniciar um projeto, sepultar rancores ou tentar reparar um erro? Não há diferença visível quando o tempo que se tem para realizações parece estar ali, ao alcance da mão, disponível para que o utilizemos na ocasião em que bem entendermos. É a tentação avassaladora que nos invade nestes momentos de postergar, deixar para depois. Oportunidades de resolução são momentos dolentes, que incomodam porque nos instigam a sair de um paradigma antigo, cômodo e é dolorido mudar.


Trocar posturas é desconfortável até que nos ajeitemos e a situação passe a transcorrer dentro do conceito que convencionamos chamar de normalidade. Aparente, diga-se de passagem, pois a segurança e o domínio de um processo são transitórios, face aos impulsos externos a que somos obrigados a responder, contrapor ou aceitar e adaptar-nos. Isto sem falar no nosso ímpeto interno que igualmente tem sustentabilidade frágil.

Depois eu dou conta disso, mais adiante eu penso como agir, mais tarde eu decido. Às vezes até que é bom postergar para que a idéia mature e possamos enxergar outros ângulos da questão. Mas via de regra, deixamos prevalecer o velho – deixa para depois – por pura preguiça física ou mental e em seguida não entendemos a razão de nada na nossa vida ir adiante. Tudo parece estar sempre na pequena área e porque não dizer, na linha do pênalti em fazer o gol.

Certeza inteira não existe; só que se morre um dia. Então, que nos agarremos àquilo que um pouco de certeza se tem, até por uma questão de ordem prática: - depois que se decidiu é uma tarefa a menos para ficar atravancando os pensamentos e gerando ansiedade desnecessária. Faça-se cedo o que se poderia fazer à tarde; é de manhã cedo que começa o dia; bordões que se ouve vida afora que ilustram com sabedoria a maneira próxima do ideal de se livrar das indecisões. Só não vale ficar remoendo as quatro opções que poderíamos ter seguido, ao invés da quinta situação que resolvemos aderir. Morto um problema, bola pra frente que tem mais jogo.

Existem aqueles que dariam tudo para voltar atrás e este é um sentimento que bate sempre na medida em que sentimo-nos envelhecendo, sendo que o próprio conceito de velhice é pessoal. E é penoso para quem está de fora entender a diferença que faz agora ou o tempo de um ano atrás. É que ao percebermo-nos envelhecidos, o tempo urge e as questões postergadas fazem fila para serem expurgadas na escala da memória.

Como diria o escritor José Saramago, “nesta altura da vida até um dia faz diferença, o que vale é parecer às vezes que foi para melhor”. Pensemos nisto.

Comentários

  1. Tomar decisões é, na maioria da vezes, torturante. Temos que levar em conta muitos fatores. O problema torna-se pior quando queremos tomar uma decisão que satisfaça a todos, mesmo sabendo que isto é impossível. O melhor mesmo é decidir pela opção menos desagradável e não olhar muito para trás.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Por favor, deixe aqui sua opinião sobre o texto.

Postagens mais visitadas deste blog

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten...

A Lei de acesso à informação. Cuba e Angola: Empréstimos com carimbo de "SECRETO"

  Aproveitando o debate que tivemos hoje em aula sobre a abertura ou não dos arquivos dos tempos da repressão, comentamos matéria publicada em 09/04/2013, pela Folha de São Paulo, de autoria do jornalista Rubens Valente, intitulada Brasil coloca sob sigilo apoio financeiro a Cuba e a Angola. A notícia de que o governo federal, através do Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, classificou como secreta a documentação que trata dos financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e Angola surpreende e, poderia passar despercebida de todos nós. Certamente, os meios de comunicação ficaram sabendo disso através do artigo 30, inciso II, da Lei nº 12.527, de 18/11/11, a Lei de Acesso à Informação, que prevê a publicação anual pela entidade máxima de cada órgão responsável do “rol de documentos classificados em cada grau de sigilo. O cidadão comum, que em 2012 festejou a publicação da chamada Lei de Acesso à Informação, pode se indagar:   “Que tipo de documento pod...

A métrica no poema e como metrificar os versos de um poema.

Texto publicado no site Autores.com.br em 25 de Novembro de 2009 Literatura - Dicas para novos autores Autor: PauloLeandroValoto "Alguns colegas me abordam querendo saber como faço para escrever e metrificar os versos de alguns de meus poemas. Diante desta solicitação de alguns colegas aqui do site, venho explicar qual a técnica em que utilizo para escrever poemas com versos metrificados. Muitos me abordam querendo saber: - Como faço? - Como é isso? - O que é métrica? - Como metrifico os versos de meus poemas? - Quero fazer um tambem. - Me explique como fazer. Vou descrever então de uma forma simples e objetiva a técnica que utilizo para escrever poemas metrificados. Primeiro vamos falar de métrica e depois vamos falar de como metrificar os versos de um poema. - A métrica no poema: Métrica é a medida do verso. Metrificação é o estudo da medida de cada verso. É a contagem das sílabas poéticas e as suas sonoridades onde as vogais, sem acentos tônicos, se unem uma com as outras fo...