Embora a uniformidade aparente do ser humano, cada trajetória é única. Ao corpo que a genética nos deu, são acrescidos nome, sobrenome e uma vida de interação com o meio ambiente, que a partir do nascimento nos cabe administrar. No começo, com alguma ajuda, mas chega o momento em que seremos nós os responsáveis pelas alterações incutidas em nosso corpo e mente. Diferentemente dos animais, o homem possui natureza composta de razão e desejo, este último, se desprende das sensações provocadas pelos sentidos clássicos de visão, audição, olfato, gosto e tato. Um arsenal de sentidos que são as nossas primeiras determinações físicas, reflexo das eternas leis da natureza, onde cada ser procura o seu prazer e foge do desprazer .
Somatório de processos assimilados de longo tempo, o instinto se forma basicamente por imitação, garante a sobrevivência. É meio de civilização, artefato original que passamos boa parte de nossa vida tentando domar e adequar. A maioria dos homens subsiste sob o domínio do instinto, não repara em nada que acontece ao seu redor e por acreditar piamente no impossível, não deixa de ser um combustível de perpetuação da humanidade. Mesmo aqueles que usam satisfatoriamente sua capacidade de fazer abstrações, igualmente são subjugados pelo instinto de uma forma ou outra. Desperto ou não, o homem continua a perseguir o imperativo da felicidade, cuja tradução prática é a busca do prazer e a fuga da dor.
Sinal universal de que há algo errado com o corpo, imediatamente procuramos pela doença quando sentimos dor. Nem toda moléstia provoca dor, mas é um incômodo que se torna insuportável se algo nos dói. A cura pode ser o objetivo, mas a trégua na dor é o desejo maior nesse momento. Nosso querer se curva nessa direção a ponto de se congelar quando o tormento cessa. “Ela vem, finalmente, a hora que te envolve na nuvem dourada da ausência de dor: onde a alma desfruta de seu próprio cansaço, abandonando-se com alegria à lentidão de seus movimentos e, em sua paciência, semelhante ao jogo das ondas que, nas margens de um lago, num dia tranqüilo de verão, sob os reflexos multicoloridos de um céu do ocaso, sucessivamente murmuram e se calam sem saciedade e sem desejos – tranqüila e sentindo prazer no fluxo e refluxo que seguem um ritmo sob o sopro da natureza”. Depois da breve satisfação, o aborrecimento retorna. A vontade paralisada na ânsia de extinguir a dor, agora se volta para a doença em si e novamente nos domina ao sugerir um desejo após o outro.
A maneira como lidamos com a satisfação dos desejos, no apogeu da nossa vida, determina a postura na doença. Talvez a imobilização propicie a reflexão a quem viveu por muito tempo fora de si mesmo e finalmente se volta para a vida interior, como que numa retrospectiva de suas escolhas. A maneira como se pensa a morte na plenitude da nossa força, manifesta com vigor o nosso caráter . Aqueles que souberam equalizar vida exterior e interior quando no auge da saúde, compreendem melhor a cura do corpo e da alma. Quem adoeceu e sarou muitas vezes, identifica com clareza o maior prazer que a saúde lhe proporciona, do que as pessoas que são sadias durante a maior parte de sua existência. Os sentidos se aguçam e sabem distinguir em si e nos outros tudo o que é sadio ou mórbido.
O domínio da vontade, o ato de desejar coisas que retorna após o término da dor física pode ser a volta da perturbação, quando se estava entregue àquela sensação de cansaço, de não se importar com mais nada. Desejar de novo, todavia, é o sintoma da convalescença e da cura.
Somatório de processos assimilados de longo tempo, o instinto se forma basicamente por imitação, garante a sobrevivência. É meio de civilização, artefato original que passamos boa parte de nossa vida tentando domar e adequar. A maioria dos homens subsiste sob o domínio do instinto, não repara em nada que acontece ao seu redor e por acreditar piamente no impossível, não deixa de ser um combustível de perpetuação da humanidade. Mesmo aqueles que usam satisfatoriamente sua capacidade de fazer abstrações, igualmente são subjugados pelo instinto de uma forma ou outra. Desperto ou não, o homem continua a perseguir o imperativo da felicidade, cuja tradução prática é a busca do prazer e a fuga da dor.
Sinal universal de que há algo errado com o corpo, imediatamente procuramos pela doença quando sentimos dor. Nem toda moléstia provoca dor, mas é um incômodo que se torna insuportável se algo nos dói. A cura pode ser o objetivo, mas a trégua na dor é o desejo maior nesse momento. Nosso querer se curva nessa direção a ponto de se congelar quando o tormento cessa. “Ela vem, finalmente, a hora que te envolve na nuvem dourada da ausência de dor: onde a alma desfruta de seu próprio cansaço, abandonando-se com alegria à lentidão de seus movimentos e, em sua paciência, semelhante ao jogo das ondas que, nas margens de um lago, num dia tranqüilo de verão, sob os reflexos multicoloridos de um céu do ocaso, sucessivamente murmuram e se calam sem saciedade e sem desejos – tranqüila e sentindo prazer no fluxo e refluxo que seguem um ritmo sob o sopro da natureza”. Depois da breve satisfação, o aborrecimento retorna. A vontade paralisada na ânsia de extinguir a dor, agora se volta para a doença em si e novamente nos domina ao sugerir um desejo após o outro.
A maneira como lidamos com a satisfação dos desejos, no apogeu da nossa vida, determina a postura na doença. Talvez a imobilização propicie a reflexão a quem viveu por muito tempo fora de si mesmo e finalmente se volta para a vida interior, como que numa retrospectiva de suas escolhas. A maneira como se pensa a morte na plenitude da nossa força, manifesta com vigor o nosso caráter . Aqueles que souberam equalizar vida exterior e interior quando no auge da saúde, compreendem melhor a cura do corpo e da alma. Quem adoeceu e sarou muitas vezes, identifica com clareza o maior prazer que a saúde lhe proporciona, do que as pessoas que são sadias durante a maior parte de sua existência. Os sentidos se aguçam e sabem distinguir em si e nos outros tudo o que é sadio ou mórbido.
O domínio da vontade, o ato de desejar coisas que retorna após o término da dor física pode ser a volta da perturbação, quando se estava entregue àquela sensação de cansaço, de não se importar com mais nada. Desejar de novo, todavia, é o sintoma da convalescença e da cura.
Penso que desejar já é sintoma de dor.
ResponderExcluirOlá Rackel!Seu Blog está cada vez mais bonito e cultural,parabéns pelas maravilhosas postagens,arte e bom gosto!Desejo a você muita luz,sonhos e realizações sempre!Beijos,amiga!!!
ResponderExcluirNão deixa de ser um sintoma, Paulo. Obrigada por prestigiar meus textos.
ResponderExcluirAna, querida, tua generosidade me encanta. Obrigada por tua carinhosa presença.
ResponderExcluirOi Rackel, é sempre muito bom vir aqui, seus textos são muito bons. Lembro que uma vez conversamos sobre grupos de poesias, conheça os blogs dos que participo aqui.
ResponderExcluirhttp://po-de-poesia.blogspot.com
www.myspace.com/gambiarraprofana
Nos apresentamos em centro culturais, escolas, etc.Temos outros grupos aqui na região e você sabe, sobrevivemos por nós mesmos.
Tudo de bom pra voce.Beijos
Obrigada, Arnoldo, por tua presença e comentários. Vou conhecer os blogs que mencionas aqui, sim. Admiro muito o teu trabalho.
ResponderExcluirAbraço fraterno.
Olá Rackel, como sempre muito gratificante ler teus textos.
ResponderExcluirAh, a dor. Ainda penso que a dor maior é a que sofremos por antecedência. Ansiedade, angustia...
Bjs
Grande abraço
Sucesso sempre.
Nadilce Beattriz
Tens razão, Nadi. Ansiedade e angústia são as dores que nos impingimos e se fazem de nossas companheiras diturnas.
ResponderExcluirObrigada por tua presença e comentário
Abraço fraterno