A distração indica a incapacidade de lidar com o contexto e a dificuldade de se manter vigilante. Vigiar pode parecer sinônimo de policiar gestos, pensamentos, cortando aqueles que não estejam voltados para a nossa leitura da questão. Aliás, o verbo vigiar desperta em nós certa repulsa por lembrar-nos instintivamente de que se algo está sendo objeto de cuidados, não se está no livre exercício de sua vontade e, portanto, sendo manipulado, cerceado e condicionado a uma situação da qual não conseguimos nos livrar. Ledo engano. A vigilância consciente sobre o nosso intelecto é o nosso reduto íntimo de liberdade, pois só ali chegamos a um nível quase imune de não-interferência externa.
Perceber-se é um fenômeno inerente a quem mantém profunda sintonia com o seu eu interior e simbiose com o universo onde se insere. Sem fazer a troca intermitente com o meio ambiente, podemos focar ora em um, ora em outro e com isso não perceber as nuances sutis que fazem com que uma situação se transmute em outra e os nossos sentidos supostamente atentos não dêem conta da mudança. Uma fração de segundo é suficiente para que se modifique a realidade tornando mais difícil o processo de enfrentamento com esta nova circunstância, porque inesperada.
Direcionados que estamos a cercear atitudes para que os nossos propósitos se concretizem, tendo o leme das ações sob controle, dirigimo-nos convictos ao que buscamos. Assim, sentimo-nos tolos quando deparamo-nos com uma realidade que não concebemos, com um resultado diverso do almejado.
Dominamos ao extremo as variáveis que nos são disponibilizadas ao tempo em que respeitamos as respostas do meio, condição essencial para poder unir-se ao todo, sem perder a individualidade. O melhor lugar para se esconder é no meio da multidão. Soldados usam roupas camufladas quando em ação na selva. Se não queremos ser destacados, mas também não passar despercebido ao um olhar mais atento é preciso confundir-se com a paisagem. Nem de mais, nem de menos, apenas o necessário.
Quando atingimos o estágio de integração, fluímos. Quando estabelecemos a comunhão, permanecemos íntegros. Não há perdas. Somos parte do todo e cada um é autônomo por si, mas que interage, troca e se revitaliza com o que recebe e o que doa, oxigenando-se e permitindo o crescimento pessoal concomitante com o avanço dos seres que estão ao redor.
Não podemos prestar atenção só em nós. Um olho lá e o outro aqui. Existe vida à nossa volta e o universo não é o nosso umbigo. Com a troca evolui-se, transmite-se o conhecimento e permite a criação de novos paradigmas. Respeitando o passado, claro, mas fazendo um ponto necessário de corte para sepultar erros, rompendo com o que não se revelou adequado e permitindo-se que a vida flua a partir da harmonia que se conseguiu conquistar e amadurecer.
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