Pular para o conteúdo principal

Confiabilidade


Apregoamos aos quatro ventos que a privacidade é um direito da pessoa. Mas na vivência do cotidiano, emitimos opiniões sobre esta ou aquela atitude, daquele(a) amigo(a) de quem nos julgamos para lá de íntimos. Afinal, amigo é para essas coisas. Credenciamo-nos a nos posicionar sobre o assunto, já que amigo que se preza fala bem, mas também está ali do lado para indicar o caminho certo. É que o outro, coitadinho, está tão transtornado pelos fatos que não enxerga que irá pela via errada. Barbaridade! Em que pese o ímpeto humano de avaliar, o posicionamento do amigo passa por, no mínimo, dois aspectos: O primeiro é se ele é tão amigo quanto se julga e se o grau de importância a que se atribui na vida da pessoa é realmente o que a pessoa dá a ele. O amigo sob foco pode estar apenas sendo gentil. E se a amizade não for tão forte assim, pode ser que o ajudado resolva cortar os vínculos ou se distanciar “por uma bobagenzinha de nada”.
Ás vezes as amizades são apenas ligações que vão se criando pela contingência da profissão, por lobbys julgados necessários, por vizinhança, amigos de pessoas queridas. Enfim, pessoas com as quais nos envolvemos tanto que quando se quer sair, não se consegue mais.
O segundo aspecto é a consequência do primeiro. Ninguém tem o direito de opinar ou expor a vida de alguém, mesmo que nos detalhes mais corriqueiros e privadamente, sem ter a cautela de saber se vai ser bem recebido. O respeito pelo posicionamento individual é uma porta aberta para a verdadeira intimidade. A pessoa pode até se sentir tentada a desabafar, mas se tiver um pouquinho de bom senso vai recuar. “Não posso dizer isso. Aquele(a) boca grande vai achar que é bobagem minha, espalhar para todo mundo e se eu reclamar ainda há de me dizer – Capaz! Mas isso não tem importância”.
Os amigos verdadeiros dificilmente são aqueles que mais nos aconselham. São so que mais nos ouvem. Manifestam-se quando convidados e ainda assim, com o maior cuidado em não nos ferir. Os amigos de fé trazem uma placa imaginária na testa: “100% confiáveis”. Têm um canal reservado para nós. Uma frequência que só nós sabemos sintonizar, sem direito a interferências. Cada novo amigo terá uma faixa só sua. Sem troca de informações e sobreposição na faixa alheia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Jogo de Palavras

Dizer que foi o receptor da comunicação quem se equivocou é uma atitude cômoda para o emissor, porém arriscada, já que a conversa pode se encerrar por ali. Quando lançamos mão do tradicional “você é que não me entendeu”, estamos transferindo para o outro a responsabilidade pelo equívoco que nós mesmos provocamos. Na prática, a nossa atitude em si é arrogante, pois não admite a possibilidade de erro e ainda por cima se exime das conseqüências, como se fôssemos donos da verdade e só a nossa versão é que contasse. Seria muito mais humilde e receptivo trocar a mensagem por “eu não me fiz entender”. Acalma o interlocutor e de quebra nos dá fôlego para uma segunda chance. Ocorre que na maioria das vezes nos utilizamos dessa tática com a melhor das intenções e com o honesto propósito de esclarecer a idéia que queríamos transmitir. Como a resposta vem de imediato à nossa mente, estamos convictos que esta forma de se expressar é correta e tanto cremos nisso que a reação é automática e não enten...

A Lei de acesso à informação. Cuba e Angola: Empréstimos com carimbo de "SECRETO"

  Aproveitando o debate que tivemos hoje em aula sobre a abertura ou não dos arquivos dos tempos da repressão, comentamos matéria publicada em 09/04/2013, pela Folha de São Paulo, de autoria do jornalista Rubens Valente, intitulada Brasil coloca sob sigilo apoio financeiro a Cuba e a Angola. A notícia de que o governo federal, através do Ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, classificou como secreta a documentação que trata dos financiamentos do Brasil aos governos de Cuba e Angola surpreende e, poderia passar despercebida de todos nós. Certamente, os meios de comunicação ficaram sabendo disso através do artigo 30, inciso II, da Lei nº 12.527, de 18/11/11, a Lei de Acesso à Informação, que prevê a publicação anual pela entidade máxima de cada órgão responsável do “rol de documentos classificados em cada grau de sigilo. O cidadão comum, que em 2012 festejou a publicação da chamada Lei de Acesso à Informação, pode se indagar:   “Que tipo de documento pod...

Do lar (Ou profissão em vias de extinção)

Ainda vigora nos contratos comerciais e bancários o uso da expressão “do lar”, para se qualificar a mulher que não trabalha fora. Há mulheres que ao serem indagadas da profissão informam que não trabalham. Por não laborar, entenda-se serviço doméstico. Exatamente. Aquelas tarefas anônimas, executadas diuturnamente pelas mulheres. O apoio logístico delas permite aos homens exercer com liberdade as mais variadas profissões, já que o controle da prole e as múltiplas funções, que o ato de criar filhos implica, estão em boas mãos. Sob o pretexto de educarmos os filhos, acompanharmos o marido, muitas de nós se tornam reféns da família. É claro que o trabalho doméstico pode ser uma opção. Mas não pode em hipótese nenhuma, tornar-se uma obrigação. Entre uma guerra mundial e outra, as mulheres pegaram no batente nas fábricas, nas escolas, nos escritórios e descobriram que podiam desempenhar tão bem quanto os homens as mesmas atividades que eles. Com os maridos na frente de batalha elas acumul...