É difícil encontrar entre aqueles ditos gênios, quem consiga equilibrar a genialidade nos diversos campos do conhecimento – seja música, ciência, escrita – com os padrões de comportamento que a convivência social exige. Trocando em miúdos, não é sempre que alguém com elevada capacidade mental criadora é sinônimo de bom pai, bom marido ou a nora que pedimos a Deus.
Gênios são espíritos iluminados, com energia direcionada ao processo criativo, maior foco de prazer também. Não entendem como isso não é percebido pelos outros mortais, indiferentes à importância do problema que ele busca solucionar. O direcionamento são os obstáculos a serem superados para se extrair a essência da arte, da ciência.
Há exemplos de quem consegue ser múltiplo. Johann Sebastian Bach teve 23 filhos. Morreram alguns, claro. Na época dele, passar dos dez anos de idade já era um feito e tanto. Ele sustentou sua família direitinho, viveu da música e ainda deixou dois bons músicos entre a prole. O Bach Filho e o Christian, ambos reconhecidos no meio musical por possuírem tanto talento quanto o pai. Talvez não com tanto ibope, porque a obra excepcional do velho Bach os ofuscou um pouco.
Diante disso, quem se habilita a um geniozinho? É fácil gostar do escritor, do cientista, do médico, do profissional espelho na sua área. Convenhamos. O companheiro das melhores mentes tem que ter um desprendimento de si muito grande para viver à sombra do outro. E nem precisa ser o virtuose de sua área. Basta olharmos ao lado, nas nossas cidades, quantas mulheres fazem das tripas o coração para viver à sombra dos bons profissionais, não raro, à custa de sufocar a genialidade latente que elas também possuem. Sorte que a medida da genialidade não é tão grande assim, a habilidade para a convivência vai aumentando também. J. S. Bach está aí para nos mostrar que é possível ser um ser humano completo, inclusive na outra face.
Outro dia li, não lembro mais onde, que quando vc se dedica inteiramente a uma coisa, acaba negligenciando as demais. Mas existem gênios multitalentos, principalmente entre as mulheres dona de casa-trabalhadoras-mães-esposas-filhas-amigas, as multimulheres, e digo isto sem qualquer tentativa de puxar o saco de quem quer que seja. Podem às vezes não chegar a criar obras imortais, comentadas e expostas em bibliotecas e museus mas, são absolutamente inesquecíveis por sua abnegada devoção a este ofício tão mal compreendido.
ResponderExcluirObrigada, Laurindo, por tua manifestação e compreensão. Abraço fraterno.
ResponderExcluir