Criar condições para que realizações à primeira vista impossíveis aconteçam é mérito de poucos. Geralmente são as pessoas conhecidas por preparar o terreno, removerem uma pedrinha aqui, outra ali, dando a impressão que a estrada está sempre limpa e que não há dificuldades que não se possa superar. Gente assim germina idéias, exercita a paciência na espera pelos frutos, uma vez que olhos mais incautos apostam que elas não surgirão. Não raro, são calculistas e não podem ser confundidos com os ingênuos, sonhadores, que apostam suas fichas traçando planos inexeqüíveis, metas difíceis de serem alcançadas ou entregam-se ao instinto deixando-os ao sabor do acaso, presas ao “algo me diz que acontecerá”. A intuição é uma arma poderosa, mas tem que se revestir do concreto para surtir o efeito desejado.
Quem se encarrega do durante, dificilmente usufrui depois. Após terminar uma etapa, lá vai sacudindo a poeira e partindo para outras realizações. Antecipar-se aos fatos é adotar postura e ação proativas, preparar a cama para que alguém possa dormir confortavelmente e quem vai adormecer nem sempre é quem a preparou. Mas isso não tira o mérito, não desmerece o resultado, nem deixa seqüelas em quem conscientemente optou por este caminho. Do contrário, tratou-se de fingimento e masoquismo por trás de uma personalidade aparentemente desprendida.
Efetivar projetos implica despojamento quanto á paternidade dos resultados. A quem os fez, basta a consciência do dever cumprido e a sede de conhecimento pacificada momentaneamente. Quem faz, precisa estar sempre aprendendo, para que possa ensinar e permitir que a obra tenha continuidade com as próprias pernas e sem a figura onipresente do idealizador. Além disso, deve permitir a incorporação de ajustes, sem a perda do objetivo original.
A humanidade caminha a passos muito mais lentos quando aliado a um interesse individual, não há um mínimo de altruísmo e um máximo de estratégia. Homens sozinhos não mudam um paradigma, mas aqueles capazes de mobilizar forças ao redor e concretizar seus propósitos, sim. E quando o fazem é porque se trata de um líder, alguém que soube vender suas idéias e manter cada um motivado e cônscio do papel a desempenhar. Parece coisa de messianismo, mas não é. Terminada uma construção, sempre há outra por iniciar.
Lembrei-me de um pensamento chinês: "Que a fama fique para os outros, não busque méritos mas frutos".
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