À medida que a idade avança o sono diminui, Acorda-se cada vez mais cedo qualquer que seja o dia da semana. A massa trabalhadora espera ansiosa pelo final de semana, afinal é quando não se prende a horário e pode descansar o corpo da labuta semanal. Mas alguém se esqueceu de avisar o relógio biológico e ele desperta sempre no mesmo horário indiferente aos planos do dono do corpo.
Na adolescência dorme-se mais e há sempre um familiar para nos acordar, seja porque é hora da escola ou não são horas de estar dormindo quando todos estão de pé ou ainda para se limpar o quarto. Quando conseguem delimitar o espaço, os jovens transformam os seus aposentos num bunker, brandindo o direito à privacidade e ai de quem entrar lá dentro sem bater na porta, condicionado à concordância do pequeno/médio/grande (conforme o percentual de Nescau, coca-cola e pizza da alimentação) ocupante.
Na vida adulta a ausência de sono se explica, afinal o dia tem só 24 horas e haja energia para dar conta de tudo. É de pegar um boi pelas guampas a cada dia. Fazer o quê? É a lei da sobrevivência. Mas na melhor idade não se justifica. Temos todo o tempo pela frente, os filhos já estão criados, os netos estão vindo e o condicionamento adquirido na meia idade, nada de ir embora. Pode ser questão de tempo, do que ainda resta e a ausência de sono seria a fome de viver. Ficamos reduzidos ao necessário. As limitações da máquina se acentuam cada vez mais e exige uma dose de consciência e persistência maior para conviver com as restrições. Justo agora que se adquiriu a alforria para a liberdade da palavra e da ação. As pessoas se tornam mais livres na melhor idade. Vestem o que querem, falam idem e são senhores da própria vontade quando driblam a patrulha dos filhos, como numa revolta a quem foi cerceado pelos genitores. Só que a “patrulha” era o exercício do papel de educar e quem está na aposentadoria entende que já se educou o bastante e pelas suas próprias regras. Justo agora que se acha livre para vivenciá-las, vem uma geração querendo lhe impingir pensamentos que são deles, formas de viver que entendem ultrapassadas sem dar o direito de perguntar se querem se modernizar. É uma volta à infância pois ante a negativa são taxados de ranzinzas e insuportáveis, que só convivem por amor e algum resquício de gratidão. O idoso se sente pressionado pelas artimanhas em troca de afeto e não raro, cede, abrindo mão de prazeres que em outras épocas teve procedimento idêntico por não poder ou por renunciar em favor dos filhos.
Nossos pais nos diziam que um dia iríamos entender isso ou aquilo e referiam-se a uma lógica que a imaturidade não nos permitira vislumbrar. Hoje questionados os pais até percebem que o enfoque pode ser mudado, mas eles não querem grandes feitos, preferem vê-los construídos no dia a dia não é agora que tem tempo, que irá despersonalizar-se e viver a vida do outro. Visões de passado e presente podem conviver harmoniosamente sim, desde que haja respeito e um olhar de reversibilidade para entender o ponto de vista do outro e o seu direito de segui-lo. Rótulos de demência são muito cômodos, mas para isto existem os médicos. Não são filhos, netos, sobrinhos, que vão impingir maneiras sob formas sorrateiras de chantagem emocional. Este é o respeito na sua essência, gurizada.
Na velhice não se dorme tanto e tirando o condicionamento metabólico é uma tomada de consciência do passar do tempo. A ordem do cérebro é aproveitar cada minuto, refazer a contagem e transmitir a sabedoria da experiência, que não necessariamente pode ter sido boa, mas como certeza é exemplo vivo do que tem maior ou menor probabilidade de dar certo. Cabe a quem está por perto, mais jovem, aproveitar ou não estes modelos. O contexto é outro? Pode ser, mas via de regra quem não aproveita a experiência das gerações precedentes perde a oportunidade de aprendizado ou de não repetir os mesmos erros.
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