No impulso não nos importaríamos de sair com a tinta no cabelo e ir comprar aquelas balas de coco que desmancham na boca de tão macias. Se não nos importamos é porque a vontade de comer as balas é mais importante que o cabelo lambuzado. Por outro lado, não temos direito de impor aos outros a nossa feiúra e esquisitice de comportamento. Imagine o pandemônio que seria se nos déssemos ao luxo de dar vazão a todos os nossos impulsos.
O mundo possui espelhos e não tem como passar na frente de um deles sem nos olharmos. Se pudéssemos, pintaríamos os cabelos só na frente, já que atrás nós não enxergamos que eles estão ficando brancos e, portanto, não precisamos nos preocupar.
Só nos damos conta das nossas imperfeições, dos “defeitos de fabricação”, quando estamos de cara com eles ou quando alguém nos avisa. Não gostamos que ninguém apontando-nos o dedo. É preciso ser muito íntimo para que aceitemos racionalmente uma observação dessa natureza. E ainda assim, dói mais. Porque a opinião mais importante para nós é a de quem nós queremos bem. Dos outros é fácil ignorar, se a autoestima não estiver muito em baixa.
Duvidamos que seja só coisa de mulher. Talvez verbalizemos mais o nosso eterno inconformismo com a aparência. Os homens tradicionalmente se fecham em copas e dizem que não estão nem aí. Ponto para eles. O primeiro a ser convencido é a gente mesmo. Mas os rapazes estão avançando rumo aos redutos ditos femininos de vaidade, apuro nas roupas, implante de cabelos, freqüência às academias, enfim.
Não é reprovável querer ser belo. O que não dá é deixar a questão estética infernizar a nossa vida e nos privarmos de outra ginástica imprescindível: A do cérebro.
Almejar uma boa aparência, se cuidar, também é sinal de deferência com quem vai conviver conosco todos os dias, no trabalho, em casa, na rua. Isto não significa atrelarmo-nos e não nos permitir certos prazeres, como o prosaico ato de comprar balas. Ah, mas sem a tinta no cabelo, claro.
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