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Mostrando postagens de outubro, 2009

Além das Aparências

Gente de caráter não se liga com quem emite baixas vibrações. Parece coisa de místico, mas pode traduzir por antipatia simultânea. “Não fui com a cara dele(a)”. Ou sentimentos bem mais terrenos como “não fecha comigo e pronto. Não vou perder meu tempo”. Pode parecer prepotência, mas todos nós temos o direito de escolher com quem queremos nos relacionar, a menos que as circunstâncias nos obriguem. Nestes casos, apenas suportamos, com um esforço enorme da nossa parte, porque implica se violentar. A zona de atrito é maior quando estão em jogo não somente situações corriqueiras, mas quando por trás da aparente singeleza delas escondem-se caráter e valores incompatíveis com os nossos. A sensação é de desamparo. “Porque é que eu tenho de passar por isto?. O que eu fiz para merecer este castigo?” A capa de civilidade às vezes ofusca as verdadeiras intenções. Com os broncos é mais fácil. A gente já sabe o que se espera deles. Eles já vão estourando, quebrando os pratos logo de cara. Mas

Primeira impressão

Ironicamente alguém comentou que ela era uma pessoa “espaçosa”. Queria dizer onde quer que fosse ocupava todos os lugares, inundava a todos com a sua presença. Uma pororoca visual e falante que não deixava ninguém incólume após sua passagem? Ou alguém do tipo “arrasa quarteirão?”. A semântica pode ser diferente e o sentido era o mesmo. Pessoas deste tipo fazem as coisas acontecerem. Incomodam, deixam todos irrequietos na cadeira e por detrás do sorriso, enxergamos ameaças. E elas dizem a que vieram, deixando-nos perplexos sem saber se são ingênuas demais; ou então se são boas estrategistas que largam de chegada a capa da autenticidade, mas não se afastam um milímetro sequer daquilo a que se propuseram. Provocam antipatia ao primeiro contato e deixam todos com o pé atrás. É muito bom quando há uma reversão de expectativas em relação a pessoas com quem inicialmente havíamos nos antipatizado. Neste caso a inversão de posicionamentos é positiva e refere-se à síndrome da primeira impres

Gota D'água

“Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa. Que qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota dágua...Pode ser a gota dágua...”A repetição da última frase da música do Chico Buarque fica ecoando em nossos ouvidos. “pode ser a gota d`água...Pode ser a gota d`água...” Vá ser sensível assim mais longe, o Chico. Para perceber com tanta sutileza as nuances da alma feminina... Só pode ser mulher. Ou então travestir-se em sentimentos tipicamente femininos ou que assim transparecem ser. Talvez por isso aquele par de olhos verdes fique grudado na retina das mulheres cinquentinhas, um pouco mais, um pouco menos, anos a fio. Mostrando em canções os matizes dos inevitáveis sofrimentos da existência, como diz um amigo nosso. Estamos resvalando aqui para o preconceito, ao intitular de feminina a prerrogativa da sensibilidade, mas é de caso pensado. O sentimento é intraduzível na maioria das vezes, por mais que nos esforcemos em transmitir aos parceiros, companheiros, a ponta

Ritos de Passagem

A indiazinha tikuna tinha a pele amarelada pela malária e não aparentava mais que doze anos. Mas o que lhe dava um ar mais estranho ainda, era a cabeça, coberta por uma penugem rala. Tivemos contato com ela na Casa do Índio, de Atalaia do Norte-AM, nos anos oitenta, quando trabalhávamos em Tabatinga-AM. Foi quando conhecemos o ritual de passagem da tribo, conhecido como festa da moça nova. Os tikunas, tribo do alto Solimões, com grupos espalhados também pela Amazônia peruana e colombiana, tem entre seus hábitos, a festa da moça nova,  Quando a menina tem sua primeira menstruação é dado conhecimento á tribo que entre eles há uma nova mocinha, preparando-se para ser mulher. Ela então é retirada do convívio dos demais e levada para um lugar reservado sob a guarda das mulheres mais velhas, onde ficará confinada durante aproximadamente um mês, tempo normal até que venha a próxima regra.   Quando ela menstrua outra vez, há uma grande festa e é apresentada como uma nova mulher na aldeia

Projetos

É bom iniciar projetos, buscar soluções que ninguém pensou antes, que nos diferenciam frente aos nossos pares, à nossa comunidade. Mas existem aqueles projetos que transcendem ao individual, ao ambiente de trabalho e envolvem a coletividade. Estes padecem de um problema crônico: a falta de continuidade na sua execução quando o autor da idéia passa o cargo adiante. A maioria não resiste a uma troca de diretoria, de mandato. Rei morto, rei posto. Quando se trata do setor público, temos o hábito de atribuir-lhe todas as mazelas de uma comunidade. Raciocinamos como se o Poder Público fosse uma entidade etérea, composta só por seus governantes e os edifícios que os abrigam. Como se não houvesse cérebros, pessoas que se encarregassem de dar forma às ações. Eles lá e nós cá, quando é o contrário. Há um todo do qual fazemos parte e no qual temos que oferecer nossa contribuição enquanto cidadãos. É fácil ter algo incorpóreo para atribuir a culpa. A empresa, a escola, a prefeitura, a direç

MATRIX - Qual realidade você quer?

Só a MATRIX cria ilusões para a maioria dos humanos. No mundo real muitas vezes também somos levados a escolher em qual realidade queremos acreditar: Real ou virtual? A pílula azul ou a vermelha, como no filme MATRIX Reloaded. Admitir, mesmo que em tese mais de uma realidade é cutucar com vara curta conceitos já vincados em nosso cérebro e para os quais o defensor antes de ser identificado como pretendente a criação de um novo conceito é simplesmente rotulado de louco. Não é compreensível defender junto aos incautos a idéia de contrapontos consolidados. Não existem “metades”. Há “metade” e pronto. É raciocínio pacífico. Fugir disto é inventar outro modelo e partir em direção a raciocínios de multidimensionalidade, ramo hoje mais entregue aos místicos, mas secretamente pesquisado, exaustivamente estudado pela ciência. Como o modelo atual da ciência é fisicalista, o próprio resultado da pesquisa só é divulgado por aqueles cientistas de vanguarda ou pelos claramente dispostos a queb

Ausência de motivação ou de vontade?

Enquanto motivação é a ação de tudo o que pode impelir uma pessoa a um comportamento, a vontade é a tendência ou inclinação espontânea, agir livremente, querer fazer. Relutei em começar este texto, quando a idéia me veio à cabeça, mesmo sabendo que se não lhe desse forma o tema me fugiria. Falta de motivação ou de vontade? Você trouxe frios do supermercado e não os acomodou logo, pois apareceu algo mais urgente. Raciocina que quem vá usar primeiro, guarde da forma habitual. Porém, a maioria dos nossos anjinhos deixa-os abertos, os plásticos escancarados, o presunto escorrendo à espera do nosso ataque de nervos. Mas é tão fácil. Frios no pote, plásticos no lixo seco e pronto. Mas cadê a vontade? Você presenteou alguém com um processador de alimentos que só falta voar. Tem pecinha para tudo. “Que pena, sujar tanta peça... e eu moro só”, retruca a presenteada. Ponto para ela. Pouca gente se dispõe a enfrentar qualquer equipamento, sem que se faça a relação esforço-benefício. Você

Pedidos a Deus

Se a personificação de Deus tivesse uma agenda, ele teria um trabalho danado para atender os nossos pedidos de todos os dias. Não há nome tão lembrado e, diga-se de passagem, em vão. Qualquer sustozinho que tenhamos, lá vem um Oh! Meu Deus!. Parece até que copiamos dos filmes americanos a mania do Oh! My god e por pouco não saímos por aí dizendo I love you, já que este é outro bordão que não falta em filme made in USA. Sim, porque americano diz Oh! My god e I love you para tudo, o que não quer dizer que quando usam estas expressões estejam lembrando sinceramente de Deus ou que estejam amando de fato alguém ou ao supremo. Pedidos na cultura religiosa estão diretamente ligados à oração à comunhão com o ser supremo, que o homem em desespero implora e eleva as mãos aos céus pedindo, apoio e satisfação de suas necessidades. O Deus da nossa crença é um repositório de tudo aquilo que a nossa natureza humana considera insolúvel ou que embora contido na partícula divina que temos conosco,

O que você não pode pedir

Há pedidos que não podem ser feitos. São os que constrangem a quem são dirigidos e não deixam nenhuma alternativa senão a concordância. Pedido assim é ordem dissimulada. Você trabalhou o ano todo, em todos os momentos em que foi demandado, mesmo que fosse fora de hora. Mas agora surgiu o convite de bodas de prata daquele amigo, que sequer pensa na possibilidade de uma negativa da sua parte. Seria normal se o local do acontecimento não fosse Curitiba, uma semana antes do carnaval e você não fosse gerente de eventos de um clube da Capital, famoso por seus carnavais. Quem está constrangendo quem? O seu amigo, quando marca a festa quando você não pode ir? Sua mulher lembrando as inúmeras vezes que o clube precisou de você e você compareceu, mesmo abrindo mão de compromissos particulares? Ou você, indo para cima do presidente do clube, dizendo que pelo menos uma vez na vida, você pode deixar de lado o trabalho e fazer algo que no fundo, também quer? Você sabe que não vai perder o empre

Vida de Novela

Existem características e posturas que se incorporam à pessoa e formam a visão que temos dela, até os mais íntimos. Há quem saiba ser sedutor em público, passar uma imagem maravilhosa e ser um desastre na intimidade. Passamos a vida representando então? Buscando o melhor para si no intuito de construir um personagem para representar? Seria simplista concordar que conscientemente o ser humano possa fazer isso. Mas sabemos que não é difícil nos emaranharmos nas teias que construímos e passamos a incorporá-las, acreditamos nelas e vendemos essa imagem para os outros. Uma novela de TV tem de 30 a 50 personagens, exceto a figuração. Se a história acontece no interior, há um bar, uma farmácia, uma religião, uma determinada loja, um salão de beleza, deixando o resto dos personagens para a imaginação do telespectador. Está implícito. Na vida real são os familiares, os amigos, os colegas de trabalho, a padaria, o supermercado de sempre. O resto é figuração, não tem importância para nós. Só nos

Amar-se

Amar-se é tentar ser livre, o mais livre que puder. Pode ser pintar o cabelo, da cor que bem lhe aprouver. Ou deixá-lo branquinho, se assim lhe convier. Mesmo que depois de algum tempo der vontade de desassumir os brancos, possamos fazê-lo com a serenidade de quem sabe o que quer. Uma coisa a cada tempo, coerente apenas com a vontade interior. Mesmo que em determinados momentos a correnteza nos conduza para outros caminhos, que se possa conscientemente optar por correr riscos desde que se tenha a certeza de só até onde se possa voltar. Amar-se é dar vazão à verdade inconsciente, ao intuitivo ancestral que mora em nós e dar-lhe ouvidos quando ele começa a bater o sininho de alerta, quase que imperceptivelmente, chamando-nos à razão, que não pode ser a dos outros, mas a nossa. É aquela razão que se preocupa principalmente com a nossa natureza essencial e nos cerca de todos os meios para que evitemos violentá-la. Ir de encontro à natureza selvagem que habita em nós é matar os resquícios

FRAGILIDADE (ou experiências de solidariedade)

A angústia não é privilégio de poucos, a maioria a tem. Num maior ou menor grau ela nos avassala vez por outra insistindo em perturbar os dias e prejudicar a sanidade buscada. Nos dias atuais a palavra ansiedade revestida do aval científico veio dar outro nome à ancestral sensação de nó no peito que sentimos quando não conseguimos entender ou resolver algo a tempo e a hora ou quando os acontecimentos não tomam o rumo que esperávamos. Sendo uma constante é inócuo ignorar a angústia. Racionalizar seria a melhor medida, mas não é assim que funciona na prática. A ansiedade extrema paralisa e não há como a pessoa tomar atitudes sadias diante dos obstáculos corriqueiros. Enfrentar a aflição além do caráter tem outras implicações que fogem à vontade. Quem mais opina sobre o problema dos outros, mais leigo é seu parecer, análise inconsciente das próprias atitudes e justificativa do modo de pensar de quem aconselha. Alguns ansiosos até tentam esconder a perturbação, mas o semblante deles não ne

Aí galera, fui!

Mãe boa mesmo, lava, passa e cozinha. De preferência, direito. Onde é que já se viu aquela sua camiseta preferida não estar no lugar, justamente no momento em que você quer? Mãe é para isto. Onde há quem faça o serviço doméstico, a mãe tem que cuidar da infraestrutura necessária para que os seus pupilos não se estressem com coisas tão triviais e consigam dar conta da estafante tarefa de estudar. Mãe dá colinho, mas longe das vistas da galera. Não dá para pagar mico de dar beijinho em mãe ou admitir que um cafuné é bem bom, mesmo que você já tenha passado de um metro e sessenta de altura. Mãe de fé é a que mantém a boca fechada. Não há quem agüente aquele buzinar no seu ouvido. Para que usar corretamente todos os talheres se hambúrger, pizza, torrada, cachorro-quente se come com as mãos? E o que é pior – faz você perder aquele clipe maneiro da MTV porque insiste que lugar de comer é na mesa e não na frente da televisão. Outra coisa que não dá para entender é a incapacidade que mãe tem d