Há pedidos que não podem ser feitos. São os que constrangem a quem são dirigidos e não deixam nenhuma alternativa senão a concordância. Pedido assim é ordem dissimulada.
Você trabalhou o ano todo, em todos os momentos em que foi demandado, mesmo que fosse fora de hora. Mas agora surgiu o convite de bodas de prata daquele amigo, que sequer pensa na possibilidade de uma negativa da sua parte. Seria normal se o local do acontecimento não fosse Curitiba, uma semana antes do carnaval e você não fosse gerente de eventos de um clube da Capital, famoso por seus carnavais. Quem está constrangendo quem? O seu amigo, quando marca a festa quando você não pode ir? Sua mulher lembrando as inúmeras vezes que o clube precisou de você e você compareceu, mesmo abrindo mão de compromissos particulares? Ou você, indo para cima do presidente do clube, dizendo que pelo menos uma vez na vida, você pode deixar de lado o trabalho e fazer algo que no fundo, também quer? Você sabe que não vai perder o emprego por isso, portanto sua posição é cômoda. Poder, você pode. Mas será que deve, que tem este direito?
Tudo o que cria teias que levam os outros a ter que “optar” sob coação é desagradável. Amigo que não se coloca no lugar do outro para saber se vai conseguir o que quer sem subterfúgios não é amigo, é opressor. Empregado que se aproveita das circunstâncias inegáveis é aproveitador. E a premissa vale para o patrão também. Mas se você passou a vida servindo de burro de carga para o chefe, filho, marido/mulher, amigo, eles vão ficar ofendidíssimos com uma negativa sua, mesmo que tenha aquiescido todo esse tempo a contragosto. É sinal que ninguém olhou para a sua cara antes ou se preocupou em saber se estava agradando.
Circunstâncias como pedir esmola, solicitar emprego a político, ou favor, inferiorizam quem solicita e, coagem quem concede. Ficam duas pessoas em situação incômoda. Uma delas, impelida por uma espécie de necessidade que a leva a depender da boa vontade de alguém e outra que é pega de surpresa e fica obrigada a decidir em prol do pedinte, mesmo que não seja essa a decisão que tomaria.
Mas uma estrela cadente rasgando o céu num clarão fugaz, também evoca pedidos. Saúde, sorte no amor, dinheiro, vale o que a nossa carência estiver necessitando mais. Pedir ao incorpóreo, ao Deus de nossa crença é comum, intrínseco, automático. Aliás, este é assunto para outro artigo. Pedidos a Deus.
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