Ironicamente alguém comentou que ela era uma pessoa “espaçosa”. Queria dizer onde quer que fosse ocupava todos os lugares, inundava a todos com a sua presença. Uma pororoca visual e falante que não deixava ninguém incólume após sua passagem? Ou alguém do tipo “arrasa quarteirão?”. A semântica pode ser diferente e o sentido era o mesmo. Pessoas deste tipo fazem as coisas acontecerem. Incomodam, deixam todos irrequietos na cadeira e por detrás do sorriso, enxergamos ameaças. E elas dizem a que vieram, deixando-nos perplexos sem saber se são ingênuas demais; ou então se são boas estrategistas que largam de chegada a capa da autenticidade, mas não se afastam um milímetro sequer daquilo a que se propuseram. Provocam antipatia ao primeiro contato e deixam todos com o pé atrás.
É muito bom quando há uma reversão de expectativas em relação a pessoas com quem inicialmente havíamos nos antipatizado. Neste caso a inversão de posicionamentos é positiva e refere-se à síndrome da primeira impressão. Deixamo-nos levar precipitadamente pelo reflexo que o primeiro contato nos causou e por ele passamos a moldar todo o nosso comportamento em relação a alguém.
Vivemos numa gangorra, preocupados demais em não sermos volúveis e aí mantemos posições indefensáveis, pelo simples motivo de que a primeira impressão é que conta. Perdemos com isso a oportunidade de conhecer melhor, descobrir a verdadeira personalidade do recém-conhecido e os benefícios que poderíamos auferir do manancial de conhecimentos únicos que cada ser humano dispõe. Não descartamos o poder da intuição. Mas a proposta é depurar nossos sentimentos, identificar o componente emocional que na maioria das vezes constitui a visão negativa e procurar o que é verdadeiro em si, o que realmente reflete a índole da pessoa e o seu comportamento frente a vida. Olhando o fato em si, podemos racionalmente escolher se queremos compartilhar ou não, relacionarmo-nos ou não com aquela pessoa. Se a impressão continuar negativa, aí sim, podemos concluir que não vale a pena.
É claro que ninguém pára para fazer elucubrações, filosofar, raciocinar e concluir se aquele motorista que nos deu uma fechada no trânsito, nos xingou, merece a nossa consideração ou se vamos riscá-lo do nosso mapa mental. A velocidade das interações não nos permite tais paradas, mas pelo menos podemos fazer um esforço para que o negativo não vinque no cérebro e nos estrague o dia. Principalmente quando a convivência é curta, porém intensa e nos assusta, como é o caso da nossa amiga “espaçosa”. A criatura pode ser alguém com personalidade, apenas. Um doce de pessoa, insegura ao se inserir num ambiente que não conhece, enfim. Só derrubando as barreiras, desarmados é saberemos realmente que tipo de ser humano existe detrás da fachada inicial.
Seu texto é muito bom, parabéns. Vim conhecer seu blog, muito bom, vou visita-la sempre. Parabéns.Arnodlo Pimentel (Autores)
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