Há momentos em que o interlocutor quer arrancar de nós uma resposta a todo custo. Só que não é uma resposta qualquer. Além da nossa afirmativa ele procura se convencer e exige que tenhamos argumentos que o satisfaçam, que tiremos todas as suas dúvidas. De quebra, ainda se reserva o direito de esboçar o famoso sorrisinho irônico de Mona Lisa do século vinte e um e lançar o golpe de misericórdia: “Tem certeza?”. Antes que o rosto fique num vermelhão, a boca mais rápida que o cérebro e lancemos um monte de impropérios para cima do convencido, respiramos fundo e com esforço contido dizemos: “Certeza só a morte. Ainda assim para quem não acredita em Deus”, acrescentamos ao tradicional bordão que se lança mão quando alguém nos coloca contra a parede.
A vida parece nos exigir certezas continuamente. Como se fosse vital acertar a cada atitude que tenhamos. Vamos juntando um amontoado de valores e a certo ponto nos perguntamos o quê daquilo tudo sobra para acreditarmos mesmo, o que é certo. Se por verdade entendermos o que o tempo se encarregou de solidificar poderíamos dizer que ele é capaz tanto de ratificar posicionamentos quanto de desmontá-los. Daí a necessidade de rever nossas crenças, a fim de que elas se situem dentro de nós no limiar da dúvida. Crença é sinônimo de fé e passa pela sabedoria. Só se torna sábio pelo conhecimento. Ao contrário do que preceitua Platão em A República ao prever uma elite erudita, constituída de cidadãos especiais a governar a Polis, ou seja, nós o povo; entendemos que não há um guardião da verdade, mas que ela está um pouco em cada um de nós.
A postura de defensores da fé, dentre outras, permitiu à Igreja católica coesão e lhe garantiu a sobrevivência. Doutores da Igreja como Santo Agostinho, por exemplo, solidificaram o ideal platônico do privilégio da sabedoria, na figura dos sacerdotes que são educados e formados para viver exclusivamente na defesa da Igreja.
O equilíbrio das nossas convicções é que determina se estamos pendendo para a ausência de respeito com a fé alheia ou se admitimos a dúvida como forma de amadurecimento. Se nossa fé é tão fechada que não admite ouvir o outro, ela é um indicador da nossa fragilidade. Temos tanto medo que o outro nos convença, que blindamos olhos e ouvidos para não absorver o que nos contradiga.
O oposto ocorre quando nos deixamos levar por espertinhos que se acham herdeiros de Sócrates e podem extrair conhecimento dos outros, como se fosse uma maiêutica às avessas. É implícito ter instrumentos e capacidade para tal, senão o perguntado não aceita submeter-se a um tribunal que para o qual não vê motivo em ser inquirido. Por outro lado, quem de nós não se irrita com alguém que só responde por evasivas, que não se posiciona sobre nada nem tem segurança de coisa alguma? Sair sempre pela tangente pode significar um turbilhão de dúvidas, onde o sujeito está mais falando para si, sendo incapaz de convencer alguém.
O ser humano evolui pela experiência, sempre alerta para rever conceitos, sem ser impulsivo demais, sincronizando o passo do conhecimento com o seu universo particular. Vale aqui o pensamento de Alvin Toffler, Doutor em Letras, Direito e Ciência e estudioso do impacto das tecnologias em nosso tempo: “Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não podem ler e escrever, mas aqueles que não podem aprender, desaprender e aprender novamente.
Pois eu, Rackel,já prefiro o binômio ADMIRACAO X DISCORDÂNCIA, pois aí me livro de tantas certezas ou... incertezas.
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